sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Bateu no fundo? Qual fuuuuundoooo...???



Depois de anos de decadente monarquia, uma violenta e sanguinária I república, seguiram-se umas décadas governado por um ditador provinciano e os seus algozes, depois vieram os sonhadores utópicos, e quando era difícil esperar pior foi delapidado por políticos bem mais espertos que inteligentes, agora é  governado pela Europa e a tirania dos mercados. Triste país o nosso. Pobre gente que não perdeu a independência pela força das armas, hipotecou-a por manifesta incapacidade de governar. A crise não existe, nem se colou à pele, vive dentro de nós.

Bombardeados pelas mensagens politicas devidamente gasolinadas por algumas imprensa vendem-nos algumas ideias que aceitamos e discutimos com um PS de vitória em vitória até à derrota final.

Primeira questão. Todos os anos discutimos o valor do défice, mais décima, menos décima. Mas subsiste uma questão fundamental nunca discutimos a ausência de superavit, o que significa que todos os anos agravamos a divida pública e alguém a tem de financiar e um dia pagar. Atingimos o ponto em que um défice de 7% é um sucesso, nem nos lembramos que um défice significa uma degradação das contas públicas em menor ou maior grau.

Segunda questão. A competividade e as exportações. Venderam devidamente embalada a ideia que é necessário aumentar as exportações. É apenas metade da verdade. A balança comercial tem dois pratos, no caso de Portugal para equilibrá-la ou se aumenta as exportações ou se reduz as importações. A impossibilidade de cunhar moeda desvalorizando-a, para aumentar as exportações ou criar barreiras alfandegárias para travar as importações, deixa-nos perante o cenário de produzirmos melhor e mais barato para consumo externo - aumentar exportações - mas também para consumo interno - reduzir importações. 

Terceira questão. Medidas orçamentais. A esmagadora maioria das medidas orçamentais tem resultados imediatos como necessário, mas cujo efeito não se propaga no tempo. Não é possível por exemplo manter por muito tempo as reduções salariais dos funcionários públicos, o contrário já era verdade no caso de uma reforma administrativa do território, na extinção de muitos dos institutos públicos e na redução dos gastos do estado. Ou seja para o ano estaremos a discutir o mesmo, mas mais endividados.

Quarta questão. A crise. A crise não começou, nem acabará agora, nem tãopuco é meramente importada como tentaram passar a mensagem. Tem anos, décadas. Tivemos a carestia, a contenção, a tanga e tudo isto banhado a fundos comunitários e acesso fácil ao crédito, cénarios que dificilmente se repetirão.

Quinta questão. O orçamento. Impingem-nos que com a aprovação do OE a crise fica resolvida, nada mais falso. Primeiro temos que entender porque motivo quem apresenta a suposta solução, não conseguiu anteriormente com os mesmos argumento atingir os fins a que agora se propõe. O PEC e o PEC II falharam na competência e capacidade do Governo de controlar a despesa pública, a mesma que continuará a não controlar com ou sem orçamento aprovado.
  
Sexta questão. Os mercados. É o eufemismo para os especuladores ávidos de países destrambelhados como jogadores viciados num casino. De facto os mercados reagem mal à incerteza, comportam-se como um dealer que pretende ver o seu cliente devidamente "agarrado". A falácia dos mercados é o maior produto de marketing deste governo. Os mercados agem como os agiotas, querem emprestar, cobrando o mais possível, mas tendo a certeza que recebem. Nesta óptica gostam do risco, pois somente assim obtêm mais valias elevadas. Preferem de facto a certeza de um mau orçamento que não resolva o problema a longo prazo do que uma ruptura que tenda para uma solução duradoura. Sou de opinião que é melhor não viabilizar um mau orçamento que aprová-lo. Pagaremos um preço imediato no curto prazo, certamente, mas um bom orçamento é a garantia de libertarmo-nos dos "mercados" no médio prazo. A verdadeira questão é quem tem coragem de assumir o ónus politico de fazer um "orçamento de base zero".

Entretanto Portugal que precisa urgentemente de um governo de regime presidencialista, será "salvo" por um orçamento feito fora das fronteiras - Alemanha, FMI, OCDE - e viabilizado por uns quaisquer deputados "limianos", que desobedecerão à disciplina partidária e ganharam primeiro aura de salvadores da pátria na imprensa e depois mantendo-se o status quo,  gozaram uma suave e dourada "reforma" num obscuro instituto do estado. 

5 comentários:

Anónimo disse...

Não foi com défice que o nosso irmão Brasil entrou na rampa da fama do crescimento económico.

Ainda me lembro de ele ter que pagar as dividas que tinha ao IMF.

E o Brasil não está inserido na Europa.

Produzir mais barato, não significa baixos ordenados. Alias o actual sistema fiscal que afoga as empresas é que significa baixar os ordenados, para reduzir dividas fiscais e por consequência aumentar a produtividade.

Anónimo disse...

Muito haveria para dizer sobre isto. Mas ressalvo um dos pontos focados. O da balança comercial. Se a UE fosse uma entidade que estivesse de boa fé para com os seus membros deixaria que Portugal (já nem quero saber dos outros) produzisse mais em todos os produtos,nomeadamente hortícolas. Que abrisse uma excepção nas quotas durante 2 ou 3 anos, para que houvesse lugar a uma maior produção para consumo interno e assim diminuir as necessidades de importar bens.
Na minha opinião pessoal, será grave para todos nós mas na mesma medida seria delicioso ver o FMI entrar por aí e mandar fechar uma cem número de institutos que servem ninguém sabe muito bem para quê e proibir a comprar de novas frotas de automóveis de luxo durante uns 10 anos,no mínimo.
PC

Anónimo disse...

Ontem fiquei sabendo que o IVA passa de 6 para 23 nalguns bens de primeira necessidade da nossa alimentação, mas oiço os politicos mentirosos a dizer que é so de 21 para 23.

Anónimo disse...

"A verdadeira questão é quem tem coragem de assumir o ónus politico de fazer um "orçamento de base zero".

O BE tem essa coragem mas os homens são demagogos...
Ainda me lembro do frente a frente entre o Ali-baba e o Loução em que a comunicação social disse que foi 10-0 a favor do Ali-baba , e tudo por causa das deduções fiscais.

Na questão do IVA e caso não haja alterações às propostas do Ali-baba e o orçamento seja aprovado,a maior diferença vai notar-se nos produtos que "migraram" da tabela 1, onde se aplica a taxa reduzida de IVA (6 por cento), para a taxa de 23 por cento. É o caso dos leites chocolatados e enriquecidos, bebidas e sobremesas lácteas ou refrigerantes, sumos e néctares de fruto. A isso juntam-se os ginásios e todas as outras práticas de actividades físicas e desportivas.

Mas há também alterações no cabaz de bens que pagava uma taxa intermédia de IVA (13 por cento). Todo o tipo de conservas, excepto as de peixe, as compotas e as geleias vão passar a pagar um imposto de 23 por cento. O mesmo acontece com os óleos alimentares e margarinas, aperitivos e snacks, flores ou plantas ornamentais"

Carlos André disse...

O comentário anterior seguiu indevidamente como anónimo.