domingo, 29 de janeiro de 2012

Gaseamento em Curso


Dia após dia, semana após semana, a diferentes horas do dia e da noite, Sines é, em permanência, invadido, por um cheiro pestilento vindo da plataforma industrial. Com uma severidade crescente uma vez que já nem janelas e portas fechadas nos permitem escapar  ao pivete que nos provoca dores de cabeça e que nos arruinará a prazo a saúde. A chaminé da Petrogal, com a sua nuvem de gases brancos recortada no escuro da noite, é o nosso indicador de referência. Quando a nuvem se dobra do alto da chaminé  sobre a cidade temos que correr a fechar tudo e, nem mesmo isso é suficiente.
Estamos sitiados nas nossas casas, sujeitos aos gaseamentos noturnos, e cada vez mais diurnos, que a prazo nos liquidarão. Aliás, nos liquidam porque a verdade é que se morre de cancro nesta terra e nesta zona como não acontece em parte nenhuma do nosso país. Claro que não há dados. Pois não, o senhor António, o senhor João, o nosso primo, o nosso tio, os nossos amigos que morreram precocemente, os nossos conhecidos que estão doentes com cancro, cada um de nós, não somos dados das estatísticas que ninguém quer recolher e tratar, não somos dados dos estudos epidemiológicos que nenhum poder quis ou quer  fazer. Há trinta anos que a lei do mais forte domina contra os direitos dos mais fracos, de nós todos. A lei do mais forte é a lei das empresas poluidoras e dos seus lacaios ao nível nacional e local com particular destaque e nojo para os lacaios locais.
Um movimento de cidadãos começou a organizar a partir do Facebook um movimento contra a poluição. Tomaram algumas iniciativas meritórias, mas cometeram um erro crasso: permitiram que os políticos coniventes com os poluidores,  com destaque para o politicamente sinistro Presidente da Câmara, integrassem essa comissão e a dominassem.  O Presidente da Câmara de Sines representa politicamente, ao nível local, os interesses das grandes empresas poluidoras e daqueles que ao longo de décadas têm agredido o direito à saúde dos cidadãos. Irá fazer tudo o que estiver ao seu alcance para canibalizar o movimento,  atrofiando-o. Os interesses que defende obrigam-no a isso. 
São patéticos os seus apelos ao combate à poluição ao mesmo tempo que no pasquim da propaganda municipal manda publicar artigos em que revela ter descoberto que a poluição é causada pela ETAR. A mesma reiterada aldrabice que desde há anos as empresas industriais, vêm divulgando. Não se via nada assim desde a revelação do terceiro segredo de Fátima.
Com Manuel Coelho a integrar o movimento a desmobilização e a demissão serão o resultado esperado até porque os cidadãos que se poderiam mobilizar para esta luta  não depositam confiança nas suas intenções e identificam-no com os interesses dos agressores.
 A Câmara se estivesse empenhada – o que  Manuel Coelho quer é o que a Câmara faz já que a sua maioria representa hoje seis dos sete eleitos que se transformaram em criados políticos do “querido líder” - tinha meios próprios para lutar contra este crime ambiental e este genocídio contra os cidadãos aqui residentes. Não o faz porque não tem nisso qualquer interesse. Saí a terreiro apenas para controlar  e desmobilizar o movimento. Ou para dar conta de mais um estudo que inevitavelmente acabará no saco do lixo e será mais tarde substituído por outro que  manterá a malta entretida e dará conta do grande empenho do “nosso querido líder”.  Estudos anestesiantes muito eficazes como se tem visto …como anestésicos.
Quando andava de braço dado com o seu querido camarada Sócrates a lançar a primeira pedra de “grandes investimentos estratégicos para Sines” e aquele prometia fazer de Sines uma plataforma petrolífera de nível europeu  devem ter limpado o rabo às preocupações ambientais e às medidas de prevenção dos acréscimos de poluição resultantes do forte investimento então realizado, com um aumento relevante da capacidade industrial instalada.
Espero que o movimento possa lutar contra a poluição e contra os que a promovem em detrimento do direito á saúde e ao ambiente a que todos nós temos direito. Espero que o movimento se liberte de tão funestas companhias. Que sentido fará ter, num movimento desta natureza, o senhor Amorim e a senhora Dos Santos? Que sentido fará ter quem ao nível local tem representado e defendido politicamente os interesses dessas pessoas? Se não for capaz de dar esse passo de se libertar o movimento acabará sem glória entontecido por um par de promessas avulsas e sem consequências futuras.
Sines é uma nódoa na democracia portuguesa. É  o local em que os cidadãos são meticulosamente envenenados apenas porque quem o faz pode fazê-lo  e quer fazê-lo, porque os seus lucros sobem na razão directa desse envenenamento. É o ponto máximo da indiferença social, da cobardia política, da traição dos interesses dos eleitores pelos que elegeram, do desprezo absoluto pela saúde dos cidadãos. Sines é o expoente de uma radical falta de ética social de um pequeno grupo de capitalistas, dos seus criados políticos nacionais e dos seus pequenos, e vorazes, caciques locais, que colocam a vida dos cidadãos desta terra, o seu direito à saúde e ao ambiente, vários pontos abaixo do mais pequeno euro que possam lucrar.
Sines é a negação da democracia

José Carlos Guinote
(este texto é da minha única e exclusiva responsabilidade)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O Ausente

Correio dos leitores
No meio de toda a agitação que se vive em torno das questões ambientais e de saúde pública há uma ausência cujo silêncio e imbilismo são muito notados. Falo da Assembleia Municipal e do seu presidente que se votou à irrelevância política, sabendo nós que os personagens que querem ser apenas figurantes, tarde ou cedo serão expulsos de cena. O senhor presidente está ainda a tempo de mudar a sua atitude no sentido de dar mais peso não só à luta da população mas também dignificar o orgão que representa. Vamos a isto Sr. Presidente, sem medos.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

“Abençoados maus cheiros”

Na Caixa do correio electronico
A poluição em Sines é um tema sempre presente pelas razões que todos conhecemos, a novidade é o frenesim criado pelo aparecimento do Movimento Cívico. Podemos dividir a vida política Siniense em duas partes, antes e depois do aparecimento do Movimento, passámos do pântano em que nada se passava e Manuel Coelho reinava mansamente com os dinheiros que iam surgindo, alguns porventura muito mal cheirosos mas as harpas continuavam a tocar as melodias celestiais. Felizmente a coisa mudou para uma realidade vibrante e dinâmica com comunicados, acções de rua, mobilização da sociedade, “abençoados maus cheiros”. Quanto ao reinado que vai caminhado para o final, já nada tem de harmonioso e muito menos de consensual, está demasiado comprometido com o passado para acompanhar o futuro, ele sabe disso.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Dívidas

Na caixa do correio
Na semana passada foi aprovado o orçamento municipal de Sines e contra tudo e todos continua a aumentar a dívida a ritmo no mínimo desaconselhado à conjuntura económica. O aumento da dívida é sustentado com dois argumentos muito simples:


1. Temos que aproveitar os programas de financiamento europeu porque oferecem condições muito boas.
2. Quem vier atrás que feche a porta.

Para quem suspeitava do ainda presidente ser unha com carne com o ex-primeiro-ministro Sócrates, tem aqui a prova dos nove. Sócrates afirmava em Paris que pagar dívidas é uma ideia de criança, o Presidente da Câmara não diz mas faz o mesmo. Se no caso do não pagamento da chamada dívida soberana quem se lixava eram os capitalistas alemães já em Sines são os médios e pequenos comerciantes que ficam a arder, o que faz uma grande diferença.