Dentro das expectativas

Findaram os oitavos-de-final e a participação portuguesa no Mundial 2010. Quanto à nossa participação lá iremos, para já as conclusões deste momento da prova:

Das 4 equipas sul americanas - já as grandes vencedoras deste mundial - apenas uma está fora de prova, eliminada... por outra selecção sul-americana;

O Gana, sem grande surpresa, pelas razões que referir no anterior post sobre esta selecção mantêm-se em prova;

As grandes equipas, como os grandes jogadores, aparecem nos grandes momentos, e assim a Alemanha, Argentina e Brasil, despacharam os adversários de respeito como a Inglaterra, México e Chile, com resultados chorudos;

Com 4 Sul-americanas, 3 Europeias e uma africana, apuradas para os quartos-de-final, neste Mundial a tradição ainda é o que era. Excepto a eliminção prematura da Itália e o intruso Paraguai, que com 4 empates e apenas uma vitória (o seu único resultado digno de revelo), já fez história;


Mantenho a minha aposta desde a primeira hora, de entre Brasil, Alemanha e Espanha sairão os dois finalistas.

Quanto a Portugal, as seguintes observações:

Um futebol de expectativa, de contra-ataque, apostado no erro do adversário, pode ser suficiente para não perder, mas raramente basta para ganhar e nunca serve para ser campeão;


Queiróz, tem a real percepção da equipa que temos e das suas (da equipa) fragilidades, continua a revelar-se um mestre da táctica e um aprendiz do banco. Com dificuldade de sair do gabinete, revela elevadas dificuldades de reagir perante as contingências do jogo;

Hoje volta a apostar em Ricardo Costa, mais como terceiro central que como defesa direito, o que até não correu mal, mas no decurso do jogo, tira Hugo Almeida para colocar Danny, substituindo quem estava a segurar a defesa adversária e procura acelerar as transições para o ataque. Mas como não joga sozinho, a ausência de Hugo Almeida, permitiu ao adversário sair mais organizado e rapidamente, quebrada a primeira linha defensiva. Mas hoje foi apenas um jogo, para encontrarmos as razões teremos de cavar mais fundo:

Com um apuramento pouco mais que sofrível, chegámos ao Mundial com uma ala direita sempre mal amanhada, e selecções coxas não ganham competições;

Tácticas como a de 9-1 contra o Brasil e 10-0 contra a Espanha, cedo ou tarde correm mal. São esquemas de jogo em que Cristianos Ronaldos nunca poderão mostrar o que valem, mas deixemos isso para Mourinho que o transformará de um dos melhores do Mundo, em claramente o melhor do Mundo;

Depois segui-se a trágico-comédia habitual, descemos ao inferno devido a um empate, normalíssimo e aceitável com a Costa do Marfim; ascendemos aos céus com os 7-0 contra a mais frágil selecção deste Mundial em que após os 2-0 nada mais tinha a perder do que arriscar tudo; ficámos com a ilusão de que somos melhores que o Brasil, se não fosse o árbitro; e hoje a realidade...a diferença que separa as melhores selecções do Mundo (e somos uma delas) faz-se de pequenos pormenores.


Depois veio a estatística, essa dama sempre pronta a servir os fracos argumentos. Não perdemos à 19 jogos, não sofremos golos à não sei quantos, fomos a equipa que na fase de grupos mais marcou e menos sofreu. E depois, dá direito a título? Não, e com apenas um golo sofrido fomos eliminados, por uma Espanha que até começou a prova a perder. Mantêm-se uma máxima que aprendi cedo no desporto, o vencedor não é quem começa a ganhar, mas quem acaba.


Mas para quem gosta da análise fria da estatística fique a saber que a nossa participação neste Mundial salda-se por uma vitória, 2 empates e uma derrota. Nenhum golo marcado, excepto a uma estranha Coreia, com um guarda-redes que não lembra a ninguém.

Para que não pensem o contrário, como a maioria dos Portugueses desejava ganhar o Mundial, mas como uma pequena minoria, que não confunde desejo com realidade, tinha consciência que o futebol ainda tem alguma lógica.

Mas existe um lado positivo da nossa participação, desde o apuramento até à nossa eliminação. Mostrámos ao Mundo um gigante das balizas e um defesa de eleição, Coentrão. Conseguimos encontrar um substituto para um estafado Deco, renovámos a equipa, aprendemos a jogar em vários sistemas tácticos, e por fim fizemos uma participação dentro do nosso real valor.

Portugal continua a confirmar-se entre as 10 melhores selecções do Mundo - independente dos estranhos rankings da FIFA - o que nos permite discutir o resultado com qualquer selecção em qualquer local, depois não fomos eliminados contra uma equipa qualquer, mas contra a campeã europeia em título e uma segura, em minha opinião, cliente da final deste Mundial.