quarta-feira, 29 de abril de 2009

O negro da guerra



Por entre empurrões e sorrisos ingénuos, caminhavam, tal como todos os dias, pela estrada de areia que ligava a escola à sua aldeia. Maria sentia algo estranho que a impedia de sorrir da forma habitual, de maneira que seguiu um pouco à frente do restante grupo, de mãos dadas com as suas duas primas mais novas. Perdida na tentativa vã, de perceber o porquê daquele mal estar momentâneo, conseguiu apenas ouvir o seu primo Xico a gritar, Encontrei uma bola!
Maria parou e olhou para trás, porque à falta de diversão, não se distinguia brincadeiras de meninos de brincadeiras de meninas, enquanto o seu irmão Manel, o mais corajoso do grupo, se aproximava, arrastando todos os outros, para ver de perto o novo objecto de diversão, ao mesmo tempo que dizia, isso não é uma bola ó aldrabão! Ai não é? Então toma lá! E nisto pontapeia a bola contra Manel, sem saber que num rasgo de magia bélica, ela se transformaria numa mortal bola de fogo.
Maria, não se recorda de mais nada.
Quando acordou na cama do Hospital, chamando em gritos desesperados, o seu irmão Manel, viu a mãe vestida de preto e percebeu a evidência da morte do seu irmão, afogando-se num silêncio negro, do qual ainda hoje não se conseguiu libertar.

1 comentário:

Anónimo disse...

a brutalidade da guerra em todo o seu esplandor, reclamando as suas viimas inocentes.