segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Semos assim

Existem palavras, que valem uma “expressão”, um “sentimento”, ou ainda algo mais. Em Portugal, todos sabemos a palavra Saudade, só existe entre nós. Em crónica de fim-de-semana, alguém falava no Expresso, no porreirismo, no gajo porreiro, como expressão tipicamente lusa.
Nada disto supera o “chibo”, o “bufo”. O peso, a conotação negativa, o significado que traz consigo, é irrepetível no nosso léxico.
Para quem conheceu a velha senhora, é um atestado de fascista, com as devidas consequências, para os outros substitui o mariquinhas, queixinhas, que pagará devidamente na próxima oportunidade.
O cão na praia vigiada, o carro estacionado no passeio a impedir a passagem, o jipe que conquista as dunas, o indivíduo que urina na via pública, que joga limpo para o chão, que muda o óleo da viatura num qualquer pinhal, a carrinha que despeja entulho num baldio, a ocupação do espaço público para fazer uma horta, são todas atitudes, mais ou menos, aceites pela malta, porque somos gajos porreiros, não é connosco e acima de tudo não queremos problemas.
O indivíduo que se queixa do bar ou do vizinho que não o deixa dormir, de quem foge aos impostos, da construção ilegal no bairro, do carro que bateu noutra viatura e fugiu, é o chibo, o bufo. Verdadeiro pária, que se mete na vida alheia.
Somos assim, desenrascamos, um gajo porreiro facilita, simplifica, sabe que a vida está difícil para todos, e amanhã podemos ser nós a precisar, e não queremos encontrar um bufo, esperamos um gajo porreiro.
Mas se a denúncia for anónima, aí a coisa muda de figura, deixamos cair o gajo porreiro, porque somos civilizados, tornamo-nos ciosos da vida em sociedade, do bem comum. Chegada a hora da identificação, de testemunhar o que se presenciou, alto! Não vi bem, ouvi falar, mas não sei, não sou bufo.

1 comentário:

Anónimo disse...

É de facto uma cultura enraizada no Português médio.
Já tivemos melhores dias, já estivemos num estádio mais evolutivo mas, quem não acredita que um certo tipo de política nos faz recuar culturalmente, está profundamente enganado.
Talvez estejamos a viver o ensaio sobre a cegueira...