Estados de Alma
O endividamento, as dívidas e a antecipação de receitas
Numa movimentada avenida de Nova Iorque da pós-guerra, existiram três restaurantes muito semelhantes em termos de dimensão, clientela, preços e restantes variáveis que condicionavam o seu desempenho. Com o advento dos mercados financeiros e a consequente facilidade de recurso ao crédito, cada um tomou uma opção diferente.
Um deles, porque não adivinhava nos filhos o desejo de continuar no ramo o porque o seu espírito conservador nunca aceitou trabalhar com o dinheiro dos outros, não ponderou recorrer ao crédito. Outro porque viu no crédito uma forma de obtenção de dinheiro fácil a juros baixos, endividou-se, trocou de carro, mulher e começou a passar férias na Flórida. O terceiro, endividou-se para modernizar e expandir o seu negócio.
Esta pequena e verídica história é o relato de uma das maiores cadeias de restaurantes do mundo e demonstra a consequência do destino diferente dado ao endividamento.
Tive o prazer de conhecer um empresário português, a quem a idade não roubou a clarividência nem a irreverência que fizeram dele um dos mais respeitados portugueses junto da alta finança. Quando confrontado pelos seus gestores sobre o crescimento dos custos nas suas empresas, invariavelmente respondia-lhes: "não temos que poupar. Temos é que facturar mais". E com um sorriso tranquilizava-os: "os custos estão controlados e são necessários ao nosso crescimento". Quando surgiram os primeiros apoio comunitários contraiu uma das maiores dívidas, que o sistema monetário português conhecera até então. Os subsídios a fundo perdido representavam uma possibilidade ímpar de alavancar capital, como nunca se vira até então. Os subsídios a fundo perdidos na ordem dos 50%, permitiram-lhe investir o dobro daquilo que pedia emprestado. Consolidou desta forma um império que continuará por muito tempo, tal a sua dimensão. Muitas vezes recordo uma das suas afirmações favoritas: um grande gestor é aquele que sobe transformar uma grande dívida num grande negócio.
Aprendi que o importante não é o endividamento, mas a sua finalidade. O endividamento, tal como a antecipação de receitas (créditos) constitui uma oportunidade e é uma ferramenta de gestão, tudo depende de quem gere a divida e da sua aplicação. Contrair uma divida, muitas vezes é a solução de aproveitar uma oportunidade irrepetível.
Se quisermos conhecer os maiores devedores, encontrá-los-emos junto das maiores e mais bem sucedidas empresas e empresários.
“Texto publicado no semanário Noticias de Sines, em 17 de Setembro de 2006.”
O endividamento, as dívidas e a antecipação de receitas
Numa movimentada avenida de Nova Iorque da pós-guerra, existiram três restaurantes muito semelhantes em termos de dimensão, clientela, preços e restantes variáveis que condicionavam o seu desempenho. Com o advento dos mercados financeiros e a consequente facilidade de recurso ao crédito, cada um tomou uma opção diferente.
Um deles, porque não adivinhava nos filhos o desejo de continuar no ramo o porque o seu espírito conservador nunca aceitou trabalhar com o dinheiro dos outros, não ponderou recorrer ao crédito. Outro porque viu no crédito uma forma de obtenção de dinheiro fácil a juros baixos, endividou-se, trocou de carro, mulher e começou a passar férias na Flórida. O terceiro, endividou-se para modernizar e expandir o seu negócio.
Esta pequena e verídica história é o relato de uma das maiores cadeias de restaurantes do mundo e demonstra a consequência do destino diferente dado ao endividamento.
Tive o prazer de conhecer um empresário português, a quem a idade não roubou a clarividência nem a irreverência que fizeram dele um dos mais respeitados portugueses junto da alta finança. Quando confrontado pelos seus gestores sobre o crescimento dos custos nas suas empresas, invariavelmente respondia-lhes: "não temos que poupar. Temos é que facturar mais". E com um sorriso tranquilizava-os: "os custos estão controlados e são necessários ao nosso crescimento". Quando surgiram os primeiros apoio comunitários contraiu uma das maiores dívidas, que o sistema monetário português conhecera até então. Os subsídios a fundo perdido representavam uma possibilidade ímpar de alavancar capital, como nunca se vira até então. Os subsídios a fundo perdidos na ordem dos 50%, permitiram-lhe investir o dobro daquilo que pedia emprestado. Consolidou desta forma um império que continuará por muito tempo, tal a sua dimensão. Muitas vezes recordo uma das suas afirmações favoritas: um grande gestor é aquele que sobe transformar uma grande dívida num grande negócio.
Aprendi que o importante não é o endividamento, mas a sua finalidade. O endividamento, tal como a antecipação de receitas (créditos) constitui uma oportunidade e é uma ferramenta de gestão, tudo depende de quem gere a divida e da sua aplicação. Contrair uma divida, muitas vezes é a solução de aproveitar uma oportunidade irrepetível.
Se quisermos conhecer os maiores devedores, encontrá-los-emos junto das maiores e mais bem sucedidas empresas e empresários.
“Texto publicado no semanário Noticias de Sines, em 17 de Setembro de 2006.”
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