domingo, 12 de dezembro de 2010

Corrupção


Neste mês, que a cada ano é cada vez mais calórico que católico, quis o acaso que entre um de vários jantares de Natal - de instituições, empresas, amigos, etc, - em que participo com entusiasmo proporcional ao afinco desportivo do dia seguinte, como remissão do pecado da gula, encontrasse um antigo amigo e colega de universidade.

De origens muito humildes, o esforço quase sobre humano dos seus progenitores e a ausência de irmãos franqueou-lhe as portas dos melhores colégios e mais tarde universidades, que teve o mérito de aproveitar como pouco, mercê da sua inteligência e raciocínio analítico verdadeiramente invulgares.

Depois de ter iniciado a carreira numa multinacional onde atingiu assinalável sucesso, estabeleceu-se por conta própria, a distância e diferentes percursos profissionais, reduziram os nossos contactos a meros formalismo de boas-festas e votos de parabéns.
Reencontro-o agora enredado num dos maiores processo de corrupção, ainda em fase de investigação, do nosso país. começou por afirmar a sua absoluta inocência, depois passou para um "em parte" sou honesto, até concluir com uma espantosa afirmação: "sendo nós gestores, tudo é uma questão de opções e o risco de uns tempos na cadeia compensam o que ganhei".

Não perdi um amigo, pois a nossa amizade é fundada para além do carácter e da personalidade por um passado que partilhámos. É certo que a honestidade é parte fundamental da pesonalidadee e carácter de um amigo, mas não é a única.

Senti que perdi mais um pouco da minha, por vezes, patética inocência. Jamais pensaria que este meu amigo seria capaz de trilhar tal caminho, depois como chegámos ao ponto de pessoas inteligentes, com formação e informação,se sintam "mais ou menos honestas", quando a honestidade é uma qualidade inteira, ou se é honesto ou não se é, ponto final. Parece que a honestidade ganhou o estatuto de subjectividade.
O aliciamento de testemunhas, a utilização de informação privilegiada, o enriquecimento ilícito, etc são hoje praticados como se fossem um acto normal, onde quem os pratica encontra justificações, com uma moralidade incrivelmente falsa e em que acredita piamente.

Assustador o arrivismo cristalizado, a ideia enraizada de que os fins justificam os meios.

Quando abandonei o jantar e me dirigi para o estacionamento, o Audi Q7, matrícula recente, disse-me muito sobre o seu dono, bem mais do que aquilo que sabia antes.  

5 comentários:

Carlos André disse...

<< A “endémica pandemia” da corrupção instalou-se em Portugal, tal como uma lapa que se agarra à rocha ou com indivíduos que passam despercebidos, discretos e bem falantes, usando com perspicácia a retórica dos lugares comuns para enrolar os incautos da desgraça - que somos todos nós!

Neste pequeno País de forma rectangular virado para o mar e quase a naufragar, a CORRUPÇÃO tomou proporções gigantescas, disseminando células maléficas e malditas encontrou um Estado amorfo e impotente para a debelar neste terreno fértil que não pára de aumentar.>>

Anónimo disse...

Pois é, a ingenuidade é só para aqueles que a querem ter. Os ideais acabaram e todos têm um preço...

efernandes disse...

Estamos sempre a aprender.
Corrupção é sinónimo de subdesenvolvimento.

Anónimo disse...

É lamentável,ver que pessoas com um grau de instrução acima da média, com grandes chances de serem lembradas por coisas boas, bem feitorias a humanidade, se deixam levar pelas aguas sujas da corrupção.
Quando vi a imagem achei que era algo relacionado ao Brasil já que é a nossa moeda escorrendo para o "buraco negro da corrupção".

Anónimo disse...

CORRUPÇÃO.
Quem são e de que lado estão?
Dos Partidos a que pertencem,qual tem
sido a posição,que medidas têm tomado ?
há muito tempo que esses partidos deveriam ter mudado de nome e porquê?
O Partido "Socialista",já
só tem o nome(basta ver em qualquer dicionário o que è ser socialista)O Partido"Social Democrata",diga-se em abono da verdade,já mudou de nome mas
como tem demonstrado ao longo dos anos não acertou na escolha,pois de SOCIAL DEMOCRATA,não tem nada. O
Centro Democrático Social/Partido Popular,de centrista também nada tem.Portanto penso que seria melhor juntarem-se e formarem então
Partido Para Defesa da Corrupção Or
ganizada - P.P.D.C.O.,e assim já não enganavam ninguém.