segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Onde estavas em Agosto de 1989?


Agosto de 1989, A maré negra

Munidos de um balde e de uma pá, dezenas de trabalhadores, militares e jovens estudantes fazem o que podem para retirar das praias da costa alentejana mais de 6 mil toneladas de crude derramadas pelo navio "Marão", ao serviço da Soponata.


O barco, certamente por erro de navegação, embateu no dia 14 de julho nos destroços do molhe do porto de Sines, perdendo a maior parte do crude que transportava em dois dos seus depósitos.


Ninguém alertou as autoridades, e foram os veraneantes das praias vicentinas que denunciaram o facto à Marinha, quando a mancha negra já se havia espalhado, inexoravelmente, pelas areias e rochas das praias.


Este foi um acidente (irresponsavelmente escondido, não se sabe por quem), mas é prática comum os navios que navegam nas águas territoriais portuguesas efetuarem ao largo a limpeza dos tanques, sujando as águas e prejudicando a pesca.


Já na altura dizia um responsável da autarquia de Sines: "A multa é pequena, cerca de 900 contos (4500 euros), e compensa, pois a limpeza efetuada nos estaleiros é muito mais onerosa e obriga a parar dois dias."


Quem aproveitou foram dezenas de estudantes que, sem meios adequados, efetuaram a limpeza durante as suas férias. Trabalhavam dez horas por dia, a 350 escudos (1,70 euros) à hora.

Um Olhar, Álbum de Rui Ochôa expresso online

Passaram 21 anos. Era mais um de tantos dias na Praia de Sines. Havia levantado pouco tempo antes uma ligeira névoa, não daquelas que nos faz pensar que D.Sebastião regressa, mas um subtil nevoeiro, acompanhado, apesar de sem relação, de um pestilento e nauseabundo cheiro a nafta. Tardaríamos horas a perceber - depois de no ano anterior o rebentamento do depósito da APS, que originou a morte de um trabalhador siniense e o afastamento de centenas de turistas - que o nosso verão de praia feito acabara nesse dia. Mas aquele que foi o verão que muitos do nosso grupo - e éramos tantos - considera o melhor da nossa vida, já ninguém nos tiraria. O verão já ia alto, as férias haviam começado em Junho, era o primeiro ano com carta de condução para alguns de nós, o que significava que o mundo ficara mais pequeno e depois éramos jovens. E qual a importância para quem tem 17, 18 anos, que a espuma dos dias fosse literalmente negra?

9 comentários:

Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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carlos andré disse...
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Anónimo disse...
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Anónimo disse...

Quem estava em Sines nessa altura não esquece.
Foi muito mau, mas, felizmente, diz-se por obra da protecção divina da Nossa Santa Padroeira, não voltou a acontecer mais nenhuma catástrofe no género...
Continuemos "rezando" e agradecendo tal protecção...

Carlos Malafaia

Anónimo disse...

Estava a preparar aquilo que se veio infelizmente a confirmar como a "Grande ultima Festa da Espuma"( 1989 ).
E o fim da sensação de que os dias de verão deveriam ter 50 horas,
acabou-se o "aprender Inglês de praia".
Foi o "fim" de uma uma Vila turística,que tinha milagrosamente "recuperado" do impacto das obras do porto.

" Lembrar é fácil para quem tem memória. Esquecer é difícil para quem tem coração"

Cada vez mais a educação, objecto da acção, torna-se indispensável para tornar a sociedade mais responsável com as gerações vindouras.

E agora como vou contar este episódio aos meus filhos?

Será que vale a pena ser ético?
Será que vale a pena ser justo?
Será que vale a pena ser correto?
Será que vale a pena falar a verdade?

Nestes tempos de turbulência moral fico um pouco mais filósofo, porque fico enojado com tanta lama e sinto, como ser humano, uma enorme falta de alguma coisa mais elevada, mais decente, menos nojenta para encher o meu espírito .
Talvez esteja aqui um benefício a ser visto pelos que ainda tentam acreditar numa possível grandeza do espírito humano.
Os grandes filósofos surgiram em épocas de grande turbulência histórica, de Sócrates a Sartre, de Epicuro a Kant, todos questionaram as mazelas do tempo em que viviam.

A verdade, porém é que assistir aos “não vi nada”, “não sei de nada”, “não estive lá”, temos uma enorme dificuldade de nos lembrar dos conselhos dos antigos atenienses.
Somos invadidos por uma raiva silenciosa e, sentimos medo até de que sejam libertados em nós os mais primitivos instintos, que mantemos cativos pela vida civilizada.
A verdade é quando olhamos para o nosso passado, quando vemos o cashflow negativo da nossa empresa e quando vemos tantas oportunidades de negócio que não podemos aproveitar por razões puramente éticas, novamente, a pergunta ,será que vale a pena?, nos vem à mente.

Nestes tempos de turbulência moral, parece que um novo dever ocorre aos honestos, aos éticos, aos empresários, presidentes, directores, que não se corromperam e se negam a deixar-se corromper. Acredito que seja o momento mais que oportuno de reunir os meus filhos e falar, com toda a clareza que ainda vale a pena os princípios da moral e da ética. É preciso que eles saibam da nossa própria boca que ainda há pessoas que não se compram e pessoas que não se vendem. É preciso que nos "vejam" afirmar e reafirmar que ainda há motivos para ter esperança nas pessoas e nesta cidade, que por certo,se chocados e combalidos, continuamos a , AMAR SINES.



António Luís