sexta-feira, 30 de julho de 2010

Relatos de um Festival

- Deve saber bem acordar todos os dias com vista para esta baía!

Ia a caminho do castelo quando ouvi isto vindo de um grupo de quatro jovens sentados na esplanada do restaurante Mexilhão.
Gosto de ver Sines assim, vestida com o colorido de um corropio de gente para todos os gostos, ou quase, porque durante estes dias, por aqui, não há lugar a cinzentismos dos velhos do restelo habituais.
A música começou em Português, mas esperava-nos um mergulho nocturno por sons do Continente Americano. Um bom ponto de partida, unir os dois lados do Atlântico com dois palcos a servir de ponte.

- Nunca vi um festival com um ambiente assim!

Uma pessoa derrete-se a ouvir estas coisas, afinal o festival é a minha terra e essa, já não consegue viver sem as músicas que lhe trazem o Mundo por alguns dias.
À saída do castelo,

- Desculpa, ainda vais entrar ou posso ficar com a tua senha?

- Epá, olha há ali uma bilheteira em baixo, se calhar é melhor ires comprar bilhete, sempre davas dinheiro a quem faz isto, e olha que eles bem precisam...

Que raio de gente é esta que nem serve para comprar bilhete para um festival? Para mim o  FMM passa-se no castelo, ou nasce lá pelo menos, porque depois espalha-se dali para todo o lado, como a brisa que nos traz a meio de um concerto o cheiro a maresia.
O parque de campismo cheio, tendas na relva da APS, seres a deambular a toda a hora, por todo o lado, sem rumo aparente, preenchendo até os sítios que nos habituámos a ver desertos, bancos vazios agora acompanhados, canteiros que servem de poltrona, muros que são por uns minutos mesa de jantar e quase aposto que Sines gosta destas aventuras.

- Ai! Ainda agora aqui passou um casal, os dois descalços cada um com a sua garrafa de vinho debaixo do braço veja bem!

- Isso a mim não me faz confusão nenhuma, só não percebo porque é que os concertos da Avenida não são pagos.

Nem eu percebo, mas isso são contas de quem não as sabe fazer. Dois mais dois afinal são três de maneira que me é difícil tentar perceber alguns porquês. Nem estou para isso aliás, que o nosso Presidente diz que isto sim é serviço público, e se é público que se lixe a diferença deste dois mais dois, porque o que se arranjou aqui foi um espírito que não se pode perder e isso não tem preço. Daqui a alguns anos, quando estes jovens que em paz nos invadem forem pais, quando forem chefes, nem que seja de si próprios, quanto irá valer a imagem que guardam da nossa terra?

- O melhor de tudo é que aqui é tudo à borla! Só gastas dinheiro em comida e bebida.

Que isto dos espiritos não tem preço, e a coisa cria-se e depois não apetece nada deixá-la ir, assim de mão beijada à mercê de um prejuízo mais escondidinho.

- Ainda estou para ver o que vai acontecer ao FMM quando o Coelho sair daqui.

Não acontece nada, que o homem lá por ter deixado criar isto não lhe fica assim com o exclusivo e acho que ninguém quer perder este festival, mesmo que não dê dinheiro por x menos y. Ainda não sei como, mas qualquer dia ainda vos provo que a riqueza de um povo não se mede apenas pelo seu ouro em caixa.

- Há uma tenda na pedreira com festa até as quatro da tarde!

- Estes moços até metem medo...

Eu também tenho medo de chegar ao final de Julho e a minha Sines deserta, de bancos solitários, canteiros vazios, noites despidas, os mesmos sítios desertos, como costumam estar sempre, dia após dia. Mas agora passa, quando descer as escadas e me misturar com a maré de gente que inunda Sines, que me inunda a mim, da ilusão de que isto podia ser tão diferente daquilo que realmente é.

Aproveitem!

18 comentários:

carlos andré disse...

Um grande festival e o resto é conversa.

Durante estes dias Sines está vivo!

Anónimo disse...

Um dos textos mais interessantes que já te vi escrever no teu Blog. Aprecias e criticas, sem venenos balofos, invejas, politiquices e cabeça quente. E concordo com quase tudo. Com a satisfação que nos dá este mar de pessoas, pela oportunidade que cria às nossas gentes de se confrontarem com a diferença, com o prazer de vermos outros apreciarem a beleza da nossa cidade.
Mas também concordo com o vazio que se instala quando a vida se esvazia das nossas ruas no final do Festival.
É preciso motivar os poderes e sensibilizar a sociedade civil a ser mais activa e a prolongar a festa - e a vida - durante o resto do ano. Venham ideias, propostas, projectos e sobretudo solidariedade institucional.

Anónimo disse...

por mim só é pena a droga
ver miúdos a drogarem-se é trite

Unknown disse...

Nelson gonçalves

É um grande festival devia ser pelo menos 15 dias seguidos havia vida em sines e alegria.

As tasquinhas tambem deviam começar dia 1 de julho e acabar dia 30 de Agosto era uma boa colaboração da Camara pense nesta boa iniciativa SR Presidente?

Anónimo disse...

Mas que grande festival, adorei.
Proponho á autarquia que para o ano crie o "Freak Card" que nos dê descontos nos comes e bebes que é a única coisa que achei puxado em Sines, porque o festival e alojamento são de borla.
Viva o FMM, voltarei.

Anónimo disse...

Reportagem fotografica e áudio do FMM 2010 no site da Rádio Sines: http://www.radiosines.com/info/noticias.php?id=13

Anónimo disse...

Grande festival, cada vez com mais cravas. São os sinais da crise.
Mas vamos bem lançados para o tal turismo de qualidade e de excelência que se tem apregoado...

Anónimo disse...

Bom post Bruno!

Anónimo disse...

Dos melhores FMM... Sábado foi mesmo um verdadeiro especataculo!!! Lindo mesmo!!!
Só tenho pena que hoje Sines esteja deserto!!
Foi brutal!!
PARABÉNS a todos.. Em especial, aos trabalhadores da CMS que trabalharam bastante para que tudo coresse bem em muitas muitas horas extraordinarias...

Anónimo disse...

Dos melhores??? Subjectivo!
Organização?? Ao fim de 12 anos onde andava? De férias!? Firmas de Limpeza contratadas? Em abono dos trabalhadores da CMS há que dizer que foi o ano em que as ruas ficaram em pior estado. Melhor, melhor, só os comes e bebes. Mas esses foram só para os VIP,s.
Para o ano há mais. FMM sempre!

Paulo disse...

"Mas vamos bem lançados para o tal turismo de qualidade e de excelência que se tem apregoado...
9:30 AM, Agosto 02, 2010"

Tanta ingenuidade...
Turismo de qualidade com vista para chaminés, pórticos, flares e porta-contentores, tudo aromatizado pela suave brisa da ETAR e Petroquímica?
E aqui ao lado: Troia e Melides.
Sines é industria. Da lagoa de Stº André até Tróia e do Porto Covo para baixo é Turismo. Se não fosse o FMM estávamos condenados a ter como única moldura humana nesta terra os trabalhadores das paragens e ampliações com os seus logos de empresas de trabalho temporário. Se de facto tivemos 70.000 pessoas no festival e se, anualmente, pelo menos 1% regressar para conhecer Sines fora dos dias do festival então teremos pelo menos mais 700 turistas do que aqueles que nos visitam para fazer o tal turismo de qualidade.

Rasta Xungoso disse...

Pois é sr. Bruno, você é um verdadeiro poeta, daqueles que vê poesia em todo o lado.
Já lhe conheci aqui dias bem negros, daquele tipo: tive que fugir daqui para fora para ganhar a minha vida, alentejo da minhalma tão longe me vais ficando.
Mas agora não, festival á borla, casa á borla que mais se pode desejar para quatro dias bem passados á borla.
Agora o que eu gostava, era de saber que post é que o senhor escreveria aqui, se na segunda manhã do FMM encontrasse a parede de sua casa que é branca, toda cagada de grafitis pretos com nomes inteligíveis, mas que eu desconfio ser o nome da puta que pariu o gajo que os fez.
Acho que poetas como você e escritores como aquele que me cagou a casa, devem levar o Coelho e ficarem a morar em Lisboa, para sempre.
Até já.

Bruno Leal disse...

Rasta Chungoso,
o grafitti que lhe deixaram à porta de casa podia muito bem ter sido deixado em qualquer outra altura do ano, basta ver as paredes da ruas de Sines ou de qualquer outra cidade para perceber que isso já é uma prática comum.
Casa à borla é verdade, festival nem por isso, afinal ainda me custou 40€ o bilhete... Mas sim, 4 dias bem passados. Para terminar deixo-lhe um conselho, tire as rastas e vá pedir à CMS que lhe lavem a parede, ou então peça-lhes tinta e pinte-a a você. Ou então ponha a casa à venda e compre uma casita no campo, de certeza que aí nenhum "filho da puta" o chateia.

Rasta Xungoso disse...

Sr. Bruno Lial
Apreciei muito a ligeireza com que você resolveu o meu problema, tão simples né?.
Realmente é azar meu ter a casa há trinta e cinco anos, no mesmo sítio e sempre alva como a neve e na segunda manhã de FMM apareceu toda borrada, atão não é que o grafiteiro mora em Sines mas esperou pacientemente pelo festival para denegrir a minha parede e a boa imagem dos nossos visitantes.
Porrei-me a rir com o seu conselho de ir pedir á câmara para me pintar a parede ou dar-me tinta para isso, com esse tamanhão todo ainda acredita no Pai Natal, ou então ainda está ganzado, porque aquilo não é preciso fumar, basta andar no meio dos fumadores.
Eu fiz melhor, comprei tinta, esfreguei a parede com diluente e pintei sobre o que restou, sabe porquê sr. Bruno Lial?. Porque a casa é minha e custou-me o esforço duma vida para a construir, quando um dia o senhor passar pelo mesmo compreenderá a minha indignação e não terá a petulância de me mandar ir morar para o campo, saindo da terra que me viu nascer e onde sempre vivi.
O que Sines precisa é ter á frente da câmara um HOMEM, com cabeça de homem, com orelhas curtas mas eficazes, porque fartos daquele senhor e pandilha estamos nós, mamam-nos todos os impostos a que têm direito (sempre pelo valor máximo) e depois gastam-nos em festarolas que não adiantam nada á nossa qualidade de vida, quando digo nossa, não o incluo a si, porque não paga impostos aqui e só vem cá desfrutar o que lhe agrada.
Quanto ao tirar as rastas para ir á câmara não percebi, então não é o senhor o maior defensor da diferença, está a contradizer-se mas isso já é habitual em si, afinal tenho ou não o direito de ser diferente?.
Sr. Bruno Lial, para si um até nunca mais

Bruno Leal disse...

Sr. Rasta chungoso,
o seu comentário não merecia mais do que a resposta que teve.
Espero que seja mesmo um até nunca mais.

Anónimo disse...

ó amigo a sua casa se calhar é daquelas que foi feita com material da condotte

Anónimo disse...

Li este post meio de "viés" !!!

O seu "nome" despertou-me, deu-me curiosidade ... mas, como o vi muito extenso ... vim directamente "cuscuvilhar", o que por aqui se comentava ...sem o acabar de ler!!! Acredito que seja interessante, mas realmente não o li.

Assim, o que me faz aqui estar a escrever estas palavras, é o facto que me sentir na obrigação de dividir convosco que há muito que um comentário aqui lido, não tinha a capacidade de me fazer rir à gargalhada.
Não querendo alimentar qualquer tipo de questão mais acalorada, que o comentário postado por "Rasta Xungoso, 9.48PM, Agosto o2", esteja a provocar, tenho que dizer que a 2ª parte do se comentário me fez dar umas belissimas e sonoras gargalhadas.

Peço desculpa ao autor ... não pense que a reacção que o seu "desabafo" me provocou, alguma coisa tem a ver com o dano que lhe causaram, nem tão pouco por considerar correcto. Longe disso.
Apenas, por alguns momentos, consegui criar, na minha imaginação, uma "figurinha" que o representava ... e pude imaginar a sua expressão a escrever estas palavras, o que "vociferou", o que gesticulou...e não aguentei!!! fartei-me de rir.
Por essa capacidade, por conseguir fazer rir, contando ao detalhe o que lhe vai na alma, o meu muito obrigada. Foi um bom momento.

Bruno Leal disse...

Eu confesso que tanto eu, como os meus amigos quando lhes mostrei, também nos fartámos de rir, sem ofensa para o autor do comentário claro, tratou-se obviamente de um bom momento de humor negro.