quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O Rafa Brasileiro

Mal o conheci, ou tal nunca tenha conhecido, o pai do Rafael.
Chegava invariavelmente com uma mal disfarçada timidez, "meio sem jeito", alegre, humildade e simpático, depressa cativou todos os outros pais que assistiam aos treinos dos seus petizes.
Primeiro juntinho à rede do campo, discretamente chamando a atenção do seu moleque, para se ir enturmando, depois na bancada com os outros pais, sorriso fácil, palavra amiga, sempre presente.
O filho, o Rafa Brasileiro, assim o tratavam os amigos, esquerdino, meio desajeitado, como todos da sua idade, ia aprendendo os primeiros passos no futebol. Ligeiramente acanhado, divertido, grande espírito de camaradagem, conquistou a amizade de todos os coleguinhas.
Na última sexta-feira, o Rafa aparece no campo pela mão de um adulto, desconcertante pede desculpa ao treinador: "Hoje não treino, o meu pai tá lá - apontando para o céu-, é aquela estrela". Assim! Puro, doce, ingénuo.
Foi então que soubemos, que o pai do Rafa estava desempregado, tal como a mãe, que tinham chegado havia cerca de dois anos, que o pai contrariando o infortúnio da busca infrutífera de emprego, caira de uma árvore enquanto apanhava pinhas, e morrera. Agora o dinheiro não chegava para levar o seu corpo sem vida, para casa, para o Brasil.
De pronto combinámos entre nós assegurar a continuação do Rafa nas escolas do Vasquinho, a sua mensalidade, deslocações aos torneios e tudo mais que se revelasse necessário. Mal sabíamos que nem chegaria a saber da nossa intenção.
Passaram alguns dias, poucos, até que ontem: " o Rafa Brasileiro, foi para o Brasil, já não volta", disse-me o meu filho.
Agora reparo que nem o seu nome soube, "apenas" era o pai do Rafa.
Nota: Esta, afinal esta é uma estória, que poderá ter um final feliz. Rafa, o miúdo, continua cá.

3 comentários:

Jorge Pereira disse...

Acho que o problema da nossa sociedade é mesmo esse. Quando pensamos a sério nas coisas e principalmente nas PESSOAS que nos rodeiam, é quase sempre tarde de mais...

Anónimo disse...

Bonito e triste,Braz obrigado pela narrativa desta história desconhecida da maior parete dos sinienses,como diz o J.Pereira ....quase sempre tarde denmais.

Anónimo disse...

Bonitas palavras que traduzem a realidade das nossas vidas...

Nelson