jóias e "pexibeques"

Por motivos profissionais, desloco-me diariamente de Lisboa para Setúbal, de onde todos os dias posso ver Tróia.
Alvo de grande alarido, Tróia foi promovida numa estratégia de marketing, montada entre o Governo e a Sonae de Belmiro, quem não se lembra da implosão de edifícios em directo no telejornal?
Durante os anos que passaram, esporadicamente ouvimos rumores sobre possíveis investimentos turísticos em toda a zona costeira, entre a costa norte de Sines e o estuário do Sado, o que nos permite imaginar que para ali estão realmente a ser preparadas grandes mudanças, tal como está a acontecer com Tróia, onde se quer promover um turismo de luxo, com vista para as chaminés da EDP, Portucel e mais algumas pequenas indústrias que por aqui proliferam. Já depois do arranque das obras em Tróia, construiu-se do outro lado do rio, uma central de cogeração e uma nova fábrica de papel, que se diz ser a maior da Europa.
No outro extremo desse imaginário novo eixo turístico, em Sines, também proliferam novas indústrias, novas chaminés estão previstas erguerem-se do nada, como armas mortíferas apontadas ao céu que nos distribui o ar que respiramos. Falo contra mim, que actualmente trabalho numa empresa que sobrevive à custa destes investimentos industriais, mas a favor de algo mais importante que é a coerência de pensamento e de acção.
Por muito que me esforce, não me imagino, caso fosse rico ou abastado, a escolher um destino de férias cercado por indústria pesada, com vista privilegiada para chaminés vermelhas e brancas, por muito que possa gostar dessa combinação de cores.
Um caso particular e que espelha bem esta contradição é o empreendimento turístico aprovado ali junto à estrada do Guia na costa do norte, cercado por pipelines, que bem poderiam transportar as matérias primas para indústrias, bem mais afastadas das zonas por excelências turísticas, mas isso seriam custos demasiado elevados, para quem pensa a curto/médio prazo.
A solução é não olhar para Norte, mas sim para Sul, onde a costa Vicentina ainda é motivo de orgulho para todos nós.
Junto à Samoqueira, numa invulgar mistura, burros e avestruzes lado a lado, fazem as pessoas encostar o carro, para uma foto para recordar, enquanto o ar dos montes alentejanos se une ao ar do Atlântico.
Até Lagos esta união entre campo e mar, permanece intacta, resta saber até quando e até lá, aproveitar o facto de vivermos numa das mais valiosas jóias de Portugal.