"O Raspalhista" - Conhecer os Sineenses

Nasceu em Sines, há 200 anos e alguns meses, em Fevereiro de 1809. Este sineense, desde cedo revelou a sua alma liberal, escolhendo a vida militar, em detrimento do seminário que frequentava em Santarém. João Daniel, porventura por puro acaso, com apenas 24 anos, viu-se em plena revolução contra o poder miguelista, quando o regimento de infantaria a que pertencia decidiu que seria hora de colocar um ponto final, num poder que os liberais viam como tirânico.

Depois da tentativa falhada, foi preso no Castelo de São Jorge onde permaneceu sob a acusação de rebelde liberal, de onde conseguiu fugir, diz-se que por influências de amigos, depois de ser torturado, mas ainda antes da sua já marcada, data de fuzilamento.

Por volta de 1832, devido a uma amnistia que o "perdoou", foi incorporado, presumo que por obrigação, no exército de D. Miguel, no decorrer do Cerco do Porto, período que terá durado cerca de um ano, durante o qual ele aproveitou para encarar de frente o medo e dar a conhecer os seus verdadeiros ideais liberais, nadando de uma margem à outra do rio Douro, para assim se colocar no lado certo da batalha, o dos Liberais liderados por D. Pedro IV, na companhia de Almeida Garrett e Alexandre Herculano.

Com tal Sineense do seu lado, escusado será dizer, que os liberais de D. Pedro venceram esta batalha, não só contra os ditos realistas de D. Miguel, como também contra a fome, o tifo e a cólera que se instalaram no Porto, durante esse ano de cerco.

João Daniel prosseguiu a sua vida, depois de ter sido condecorado com o hábito da Ordem Militar da Torre Espada, leccionando crianças da escola primária, mas nunca se abstendo de emitir opiniões políticas de tal modo violentas, que chegou a ser acusado de revolucionário ultra progressista pelos seus velhos amigos liberais. Foi devido a isso preso, uns dizem que na Torre de Belém, outros no Forte de São Julião da Barra e aí, se dedicou a estudar a medicina de Raspail.

Assim que foi libertado, João Daniel "o raspalhista", fundou a Sociedade Humanitária Raspalhista, que centrava as suas preocupações no combate às epidemias de cólera e febre amarela, que se abateram sobre o nosso Reino durante os anos de 1856/1857. Por isso foi uma vez mais condecorado, desta feita com a Comenda da Ordem de Cristo, ganhando a partir daí fama como médico popular, lutando contra as técnicas dos métodos reais, que segundo dizia, teriam deixado morrer o seu querido D. Pedro IV, bem como todos os seus irmãos, por quem ele lutara anos antes. Preparou um elixir, a que deu o nome, de água de Raspail, talvez para comprovar a sua razão, quando foi acusado de praticar medicina sem habilitações reais. Faz a sua própria defesa em tribunal e é absolvido e levado em ombros pelo Povo que aguardava à porta do Tribunal da Boa Hora.

Mais tarde foi publicista nos jornais, "O Portuguez" e o "O Patriota", entrando mais tarde inevitavelmente em confronto com a Igreja Católica, ao acusar os Jesuítas de quererem reentrar no País, sendo por isso excomunhado pela Igreja.

João Daniel de Sines, de quem nunca infelizmente li nada, deixou várias obras de carácter religioso e científico, segundo se diz, pouco acessíveis.

Morreu em Lisboa, no dia 19 de Abril de 1878 com 69 anos.

Em 1995, foi condecorado pela Autarquia de Sines, com a medalha de mérito Municipal.