quarta-feira, 24 de junho de 2009

Desemprego

Incomoda-me emocional e até fisicamente, o desemprego.
Nos últimos tempos não passa um dia, e mais recentemente umas horas, que não seja confrontado com o "monstro". Seja um amigo que ficou desempregado, seja um conhecido que telefona a procurar por emprego, seja o aumento de inscrições para trabalhar, sejam as notícias nos jornais, na televisão, ...está omnipresente, o desemprego passou a almoçar, a conviver na sala de estar de nossa casa, dorme e acorda connosco. Pega-se à pele como a sarna.

Tecnicamente ainda não conheci o desemprego, mas já estive à espera de emprego. Comodamente instalado na casa de meus pais, sem dívidas ou compromissos e por breve tempo, que contudo pareceu um eternidade, procurava iniciar a vida activa. A ânsia de mostrar no mercado de trabalho o que sabia - ou julgava saber - a necessidade de me sentir útil, a auto-estima, a urgência de ganhar dinheiro e criar independência, transformavam a espera das respostas, o aguardar de um telefonema, num calvário, e a renovada esperança a cada oportunidade não concretizada num drama.

E é adicionando a estes tempos a necessidade de pagar dividas, alimentar-se a si e à família, pagar os estudos dos filhos e acreditar num futuro melhor, que penso em cada novo desemprego que tomo conhecimento.


E tudo isto dói ainda mais, quando sabemos que muitos deles são uma inevitabilidade, resultante da escassez da procura, da redução da rentabilidade, do surgir do prejuízos que muitas empresas acumulam pondo em causa a sua própria sobrevivência.

Tal seja impelido por um sentimento de solidariedade, ou apenas de egoísmo, e o meu desconforto se deva ao mesmo que sentimos perante a morte dos outros, temendo a nossa própria morte.

Não sei ao certo, mas sinto-me emocional e fisicamente incomodado com a situação que vivemos e que ainda está longe de de mostrar todo o seu rosto.

1 comentário:

efernandes disse...

Se incomoda meu Caro. Só "parece" não incomodar os que andam de "peito inchado" e os que "pensam" (será que pensam mesmo?), que o problema é dos outros.
No meio que frequento, habituei-me a conviver com a precariedade, com aqueles que têm trabalho hoje mas que não têm qualquer certeza de que o terão amanhã mas, ao mesmo tempo, a conviver com outros que para eles, a precariedade não existe (querem lá saber disso), parecendo-me até que o amor que supostamente deveriam ter pelos filhos, é coisa do passado.
Não posso inferir daqui que os Portugueses em geral não sejam solidários mas que disfarçam muito mal, isso é um facto.
Para mim, a precariedade é sinónimo de desemprego a prazo.