Manuel Coelho, o "Bufo"

Francisco Pacheco (CDU) apelida Manuel Coelho (SIM) de "novo bufo".

O candidato da CDU à CM de Sines, Francisco Pacheco apelidou, recentemente, o cabeça de lista do movimento SIM, Manuel Coelho de “novo bufo”.

As declarações foram proferidas durante o discurso de apresentação da candidatura comunista, no último sábado, em Sines.

Francisco Pacheco, não se poupou nas palavras, e criticou a actuação de Manuel Coelho quando tornou pública uma opinião sua durante uma reunião interna do PCP onde se discutiam investimentos em Porto Covo.

"Nessa reunião entendia que se devia equacionar muito bem as obras para Porto Covo, tendo em conta que é ano de eleições, mas a reunião teve uma conclusão muito segura, ou seja que a autarquia deveria fazer obras na localidade e que deveria ter o cuidado de retirar, desses investimentos, os dividendos políticos inerentes", sublinhou.

"A seguir, o Dr. Manuel Coelho saiu das listas da CDU e do PCP, criou uma lista de independentes e, numa reunião da assembleia municipal, disse que o presidente da assembleia municipal (Francisco Pacheco) tinha defendido que não se deveria fazer obras no Porto Covo", acrescentou Francisco Pacheco.

Esta atitude leva Francisco Pacheco a apelidar Manuel Coelho de "novo bufo".

"Estávamos habituados, naqueles anos mais negros, a que houvessem alguns delatores, alguns bufos que nas reuniões ouviam e depois íam contar. O menino não foi contar a conclusão da reunião, o menino foi contar a opinião de um camarada dele numa reunião do PCP", lamentou.

"Este tipo de bufo é o novo bufo. O outro era o que contava as coisas quando era politicamente importante. Este é o que divulga as coisas quando quer denegrir as outras pessoas", acusou.

As criticas de Francisco Pacheco ao seu principal adversário político que diz ser a nova versão de bufo, depois da PIDE.

Helga Nobre, Miróbriga

Sempre tive uma relação dúbia com a palavra bufo. Esta foi utilizada durante o período da ditadura para os delatores do PCP, ao regime, mais concretamente à Pide.

Com o tempo vulgarizou-se e utiliza-se para todos aqueles que fazem denúncias, legitimas ou não. Aliás Portugal vive entre a denúncia sórdida e anónima e a indiferença, quem se chateia com o carro em cima do passeio, com o cão que suja o jardim, com o vandalismo do património municipal, para muitos, especialmente os prevaricadores, apenas os bufos.

Há uns bons anos atrás, quando visitei a Alemanha vim com a convicção clara que eram um país de bufos. Uma festa num sábado à tarde no jardim da vivenda, era motivo para os vizinhos (no plural) do lado telefonarem a informar que já tinha apresentado queixa na policia, e esta não tardava a chegar, se fumávamos num sitio proibido o primeiro transeunte avisava, se púnhamos os pés num banco do jardim, vinha logo um cidadão de algures com uma lição, enfim um país de bufos, aos olhos de muitos portugueses.

Hoje a maioria dos portugueses distingue a enorme diferença que separa um "bufo", porque os existem, com quem cumpre um dever cívico. Denunciar quem lesa os interesses comuns, seja da empresa, do condomínio, da localidade, a corrupção, a ilegalidade, etc, será um acto de um "bufo" ou o nosso dever e obrigação na qualidade de cidadão?

Mas será nesta condição que se insere a denúncia de Manuel Coelho, e ao trazer para a praça pública um assunto do foro interno - estratégia - do partido - organização - a que pertencia, quebrando elos de fidelidade e bom-senso, com o intuito de obter proventos políticos. Não é bonito, mas daí a ser bufo...chamar-lhe-ia apenas politico.

Ao falar em público do que se passava no interior duma organização a que pertenceu, e representou, durante mais de 30 anos, que segurança transmite o líder do Movimento SIM, a quem o acompanha à poucos meses, que garantia oferece que os seus colegas do Movimento não vejam amanhã discutido na praça pública, o que hoje supõem ser uma questão interna e sujeita a sigilo.