sábado, 4 de abril de 2009

Correio dos Leitores

Com o Título PRESSÕES IMPRESSIVAS, Fernanda Câncio, escreveu o artigo de opinião que segue, publicado no DN de hoje (03/04/2009).
Já sei que vão surgir comentários venenosos acerca de uma hipotética, ou não, relação da jornalista com o primeiro ministro, o que, para mim nada altera a minha opinião - UMA JORNALISTA SÉRIA E HONESTA QUE CONTRASTA COM O JORNALISMO DE "SARGETA" QUE POR AÍ ANDA

" O que é ao certo uma pressão? Como se reconhece? No contexto político-mediático português, a palavra tem vindo a revelar-se deslumbrantemente polissémica. Um telefonema de um entrevistado a um entrevistador de TV a pedir que não o trate pelo primeiro nome é alardeado pelo entrevistador como "uma pressão". Uma queixa à Entidade Reguladora para a Comunicação Social a propósito de um telejornal é comentada como sendo uma pressão. O interpor de um processo judicial é denunciado como pressão. E uma conversa entre colegas magistrados do Ministério Público durante um almoço pode - a atender ao que se noticiou esta semana - surgir como pressão, com direito a dramática denúncia pública mais pedido de audiência ao Presidente da República. Entendamo-nos: ou tudo e qualquer coisa pode ser uma pressão, tipo "o meu patrão pressionou-me para eu trabalhar mais", ou pressão é sinónimo de uma interferência que tenta condicionar abusivamente, com recurso a uma ameaça ilegítima. Se o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público denuncia a existência de pressões sobre os procuradores do caso Freeport que implicariam nem mais nem menos que a intervenção do Presidente, das duas uma: ou as pressões existem e nesse caso só se percebe que não tenham sido directamente comunicadas, como seria normal,à hierarquia da magistratura - o Procurador Geral - porque o Sindicato considera que este não está em condições de as investigar e dirimir (o que implica a desautorização e insinuação do comprometimento de Pinto Monteiro); ou trata-se de mais do mesmo, ou seja, uma acção tendente a adensar o clima de suspeição e alarme que rodeia o processo.Diz em Maria José Morgado e Cândida Almeida que um magistrado (uma pessoa?) corajoso não se deixa pressionar. Pode ser - mas há pressões que funcionam. Denunciar todo e qualquer protesto contra a violação sistemática do segredo de justiça no caso Freeport como uma tentativa de silenciar a comunicação social e de tentar "abafar" o caso é uma pressão muito eficaz. Como o é acusar de atentado à liberdade de expressão (veja-se a contradição) toda e qualquer pessoa que se insurja contra a violação sistemática das regras mais básicas do jornalismo, no que respeita a este caso, em vários media portugueses, com destaque para o folhetim brega que dá pelo nome de Jornal Nacional. Como o é identificar, entre os actores judiciais "envolvidos" no caso Freeport, os que terão "ligações" ou simpatias na área do PS, insinuando que essa condição, real ou imputada, suscita automático incidente de suspeição - elidindo a existência de outras simpatias político-partidárias nos actores do processo, como se umas contassem e outras não. Trata-se, afinal, de causar nas pessoas a impressão de que um partido - o que governa - é uma associação de malfeitores e que quem quer que contrarie essa visão só o fará pressionado pelo medo, pelo interesse ou pelas associações. E isso, sim, é uma pressão à séria. Abusiva, ilegítima, ameaçadora e antidemocrática."

Artigo de Fernanda Câncio, Publicado no DN DE HOJE, 03/04/2009

enviado por LUIS PARREIRA LOBO

10 comentários:

forasteiro disse...

...e não é?!
Querem exemplos de malfeitores?
Querem exemplos de terem dito uma coisa e feito outra na primeira altura?
Não me esqueço do M. Soares como 1º ministro e de outros tb não!
Ah, poisx...

Anónimo disse...

bem trabalhado pelo bráz ainda foi o manuel coelho o culpado

Marius Herminius disse...

De “uma jornalista séria e honesta que contrasta com o jornalismo de "sargeta" que por aí anda”, segundo as palavras do Sr. Luís Parreira Lobo, transcrevo um texto seu, publicado no DN há uns tempos atrás.
Faço este compasso para perguntar ao Sr. Luís Parreira Lobo por que motivo escreveu sarGeta entre aspas. Será porque não concorda que haja jornalismo de sarjeta? É que eu desconheço o que seja a sua dita “sarGeta”…
Mas deixemos as sarGetas a quem delas percebe.

Passo então a transcrever o referido texto, no qual a Sra. Jornalista Fernanda
Câncio (que não é de sarJeta, note-se!) compara o Caso Freeport com o celebérrimo Caso Dreyfus!
É isso mesmo! Esta Sra., séria e honesta – acredito – não tem pejo nenhum em colocar no mesmo saco o Sr. Engenheiro (sem aspas…) José Sócrates e Alfred Dreyfus.
Recordo, para os mais esquecidos, que Alfred Dreyfus foi um oficial francês acusado de espionagem e condenado injustamente e deveu a sua libertação ao célebre “J’Accuse”, de Emile Zola.
Ora, esta Sra. poderá muito bem ser honesta e séria, mas independente é que eu duvido que seja.
É evidente que todos nós sabemos que a sua eventual relação com o nosso 1º nada tem a ver com o caso. Mas ainda que todos nós tenhamos asas, custa-me a crer que sejamos todos anjinhos…
Segue o já referido texto:

Há 111 anos, a 13 de Janeiro de 1898, foi publicada a mais grandiosa peça jornalística de todos os tempos. Escrita como carta aberta ao presidente de França, é um apelo indignado em nome de um inocente injustamente condenado, libelo contra um sistema judicial corrupto e uma opinião pública contaminada pela manipulação da verdade e pelos seus preconceitos (o condenado era judeu) através de uma campanha mediática "abominável". Num estilo que cruza o jornalismo e o manifesto, descreve a forma como um homem foi desonrado, julgado e condenado a prisão perpétua com base em provas falsas que, sendo consideradas "secretas", nem sequer lhe foram reveladas, e demonstra como o verdadeiro culpado foi absolvido por juízes cientes da sua culpa. Tem como título J'accuse...! (Eu acuso...!), e é uma defesa empolgada e empolgante da verdade e da justiça.

O seu autor, Émile Zola, sabia ao escrever o risco que corria - aliás, escreveu jogando nesse risco, o de ser acusado de desrespeito e difamação e de poder fazer do seu julgamento a demonstração do que afirmava. Conseguiu o que queria: virar a França a favor do inocente condenado (Dreyfus) - mesmo se à custa de reacções violentas contra ele e contra Dreyfus, incluindo motins anti-judaicos - e reabrir o respectivo processo, mas também ser julgado, três escassas semanas após a publicação do artigo. Foi condenado à pena máxima no caso, um ano de cadeia, a que escapou fugindo para o estrangeiro.

Zola voltaria a França para assistir à reabertura do processo Dreyfus, no qual este foi, incrivelmente, condenado de novo. Seria no entanto "perdoado" e acabaria ilibado em 1906, reintegrado e promovido no exército que o expulsara. Zola, arruinado pela defesa de Dreyfus, tinha morrido há quatro anos, sem ver satisfeita a sua exigência de justiça. Na verdade, a justiça nunca foi realmente feita: ninguém - nem os oficiais do exército que cozinharam a sua "culpa", nem os juízes e procuradores que o condenaram sonegando-lhe as provas, nem aqueles que a propagaram sem se esforçarem por conhecer a verdade - foi julgado pelo martírio de Dreyfus. As forças contra as quais Zola se ergueu, "fraco e desarmado" (como disse Anatole France no seu elogio fúnebre), nunca foram derrotadas - apenas o necessário para, naquele caso, lavarem a face, revendo a decisão que condenara um inocente. Fraco consolo.

O caso Dreyfus, como muitos outros antes e depois dele, mostra o ladro negro do poder do sistema judicial. Quando um sistema criado para certificar a procura e o triunfo da verdade despreza a verdade e funciona como se estivesse acima das leis por cujo cumprimento lhe cumpre zelar, instrumentalizando o extraordinário poder que lhe é conferido, não há Estado de Direito. Sem Estado de Direito, não há grande chance para a democracia, até porque não há para aí Zolas aos pontapés. O que há aos pontapés é gente que, quiçá imaginando-se da estirpe do autor de J'accuse, se compraz em funcionar como guarda avançada dessa instrumentalização da verdade. "O meu dever é falar, não quero ser

LUIS PARREIRA LOBO disse...

Sr. Marius Herminius,
Li com atenção o seu comentário que me merece as seguintes observações:
- Quanto à palavra "sarjeta", tenho a certeza que não reparou apenas nas aspas, também viu, concerteza, que estava incorrectamente escrita(sargeta). Acontece...
- Quanto às aspas, pois bem, vamos a isso: - respeitosamente, aconselho-o a consultar de Celso Cunha e Lindley Cintra a NOVA GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO (Lisboa, Sá da Costa, 2002, pp 657-659) onde são indicados vários casos para o emprego das aspas, entre eles:
- para acentuar o valor significativo de uma palavra ou expressão;
- para realçar irònicamente uma palavra ou expressão;
- .................
Tenho a certeza que agora já ficou a perceber porque coloquei a palavra sarjeta entre aspas.
- Quanto a eu concordar ou não que haja "jornalismo de sarjeta", vamos por partes.
- A designação jornalismo de sarjeta é a tradução literal da expressão inglesa «gutter press», que se refere ao jornalismo que se define pela sua vulgaridade e baixesa. Por outras palavras, o interesse pelo crime (quanto mais sórdido melhor), pela vida íntima das celebridades e por qualquer escandalo que meta sexo, dinheiro e corrupção.
- Quer eu concorde ou não, ele existe, é uma realidade com muitos leitores e, parece rentável. - Não me diga que desconhecia - .
Não, não o leio !.. mas não condeno quem o lê, cada um é livre de fazer as suas escolhas.
- Mas, como estamos num Estado de Direito - não sei se o senhor pensa assim - também esse jornalismo tem regras a cumprir, como sejam o direito ao bom nome e privacidade dos cidadãos, a salvaguarda da presunção de inocência, a não violação do segredo de justiça, etc. enfim, preceitos consignados na nossa Constituição, nomeadamente nos artºs 25º e 26º além daqueles a que estão obrigados por força do Código Deontológico dos Jornalistas.
- Portanto, meu caro Sr., a sarjeta a que eu referia era esta, quanto às outras, dou-lhe razão, deixo-as para quem delas percebe.
- Sem qualquer ofensa, há jornalismo que pelos assuntos a que se dedica se designa de sarjeta e há o outro jornalismo, ambos com profissionais sérios e honestos.
- O problema é quando os jornalistas tratam todos os assuntos com as mesmas regras - de
sarjeta ou não sarjeta - e a estes eu coloco entre aspas. Já percebeu ?
- Quanto à independência da jornalista Fernanda Câncio de que o sr. diz duvidar, acho que é uma dúvida que deveria pôr à propria, por exemplo, através do endereço electrónico, que consta sempre no final dos seus artigos. É assim que as coisas devem funcionar em democracia - frontais, directas e sem receios - . Felizmente, desde a queda do fascismo e a derrota do "socialfascismo" que lhe pertendia suceder, somos livres.
- No entanto, porque acredito na democracia, na liberdade de expressão e no direito ao contraditório e à réplica, permita-me que lhe coloque algumas questões.
- A jornalista não é independente por, supostamente, ser namorada do primeiro ministro?
- Não é independente porque,como o sr. reconhece, não é de "sarjeta"?
- Por o sr. não a achar independente, entende que ela compara, abusivamente, o Freeport ao caso Dreyfus ?
- Porque o sr. a não acha independente, afirma que ela, e passo a citá-lo «não tem pejo nenhum em colocar no mesmo saco o Sr. Engenheiro Sócrates (sem aspas...) e Alfredo Dreyfus» fim de citação. ?
- Donde se pode concluir que, para o sr. Marius Herminius:
Quem concorda e apoia o 1º ministro, ou namora com ele, ou é seu amigo, ou quem sabe, talvez tenha receio dele. (Elucidativo)
Só os jornalistas que dizem mal do 1º ministro, o caluniam e procuram àvidamente notícias comprometedoras, quais hienas esfomeadas, são independentes. (Eu chamo-lhes de "sarjeta").
Colocar os dois no mesmo saco ? Como sr. Marius Herminius, se um já foi julgado e inìquamente condenado e o outro já vocês o condenaram sem precisarem de qualquer julgamento ?
- Quanto ao texto, que em grande medida, preenche o seu comentário, já o conhecia, pois é com prazer que leio o que esta Jornalista escreve.
- Pois bem, eu, ingénuo e com asinhas, apenas lá descortino um alerta contra as condenações preconcebidas, contra a manipulação das notícias e da verdade através de mediáticas e abomináveis campanhas, um alerta para que Casos Dreyfus jamais se repitam.
- Permito-me citar-lhe um excerto de uma palestra de Ségolene Royal sobre o perigo do não regular funcionamento do sistema judicial, em que ela, a determinada altura diz: «PARA NÓS SOCIALISTAS, MAS TAMBÉM PARA TODOS AQUELES QUE PRESERVAM OS VALORES DA REPÚBLICA O "CASO" COMO SE DIZIA ENTÃO, SUSCITA SENTIMENTOS SIMULTANEAMENTE DE VERGONHA E ORGULHO. DE VERGONHA PELA MAQUINAÇÃO URDIDA, PELA ENORMIDADE DE INFÂMIAS E INJÚRIAS QUE SE ABATERAM SOBRE O CAPITÃO DREYFUS COM UMA VIOLÊNCIA INAUDITA: SOBRE ELE PORQUE ERA PRECISO UM CULPADO, SOBRE ELE PORQUE ERA PRECISO UM JUDEU. »
Não querem lá ver que se calhar a Ségolene Royal tam bém é namorada do Sócrates !...
E para terminar, facto histórico, que talvez o sr Marius Herminius desconheça:
«Em 1894, madame Bastian, empregada de limpeza da Embaixada Alemã em Paris, descobriu uma carta suspeita no cesto do lixo do adido militar alemão, cujo conteúdo comprometia, sèriamente, a lealdade do capitão Dreyfus. Foi esta carta, mais tarde reconhecida como falsa, que levou à injusta condenação do capitão.»
Há coincidências do "caraças" !...
O MAIOR DEFEITO DA DEMOCRACIA É QUE SÒMENTE O PARTIDO QUE NÃO ESTÁ NO GOVERNO SABE GOVERNAR.
Cumprimentos Sr. Marius Herminius.
LUIS PARREIRA LOBO

Marius Herminius disse...

Meu Caro e Sr. Luís Parreira Lobo

Dedico-lhe estas minhas e singelas palavras para tentar compensar o seu imenso texto, ainda que este fosse desnecessário.
O Sr. tenta dar-me lições, apesar de eu não lhe ter perguntado nada.
Se ler melhor o meu texto, verá que apenas tentei responder-lhe. Se não o consegui, lamento muito porque não fui suficientemente claro.
Agradeço as suas demais considerações, apesar de as considerar desnecessárias.

Aceito, agradeço e retribuo os seus cumprimentos, Sr. Luís Parreira Lobo.

marinheiros de sines disse...

É realmente confrangedor a tentativa de branqueamento da acção do actual PM.
Todo o PS vem histéricemente defender o lider (certamente a troco de algumas prebendas).
Se calhar o líder faria melhor em voluntariar-se para ser investigado de alto a baixo, oferecer-se como exemplo de rectidão e integridade e após a sua "provada" inocência poderá, ai sim, processar tudo e todos e apregoar a campanha negra, a cabala e quejandos.
O povo (conceito alardeado mas esquecido por estes governantes) diz "quem não deve não teme" e a nós parece-nos que o PM deve, e muito.
Sobre a Sra. Câncio, uma porta bandeira do horrível "politicamente correcto", descontando o seu péssimo português (escrito e falado), a sua falta de maneiras e de argumentação (comprovavel agora na TVI24) apenas se pode dizer ( e fácilmente constatável que, desde que assumiu o papel de namorada do PM), que triplicou o seu espaço mediático, incluindo a televisão.
Como disse outra "escriba" da nossa praça "Não há coincidências".
E para terminar, não me parece que o partido que NÃO ESTÁ no governo saiba governar...mas o que ESTÁ no governo de certeza que não sabe!

Marius Herminius disse...

Aos marinheiros de Sines direi que acredito na presunção da inocência de toda a gente em geral e na do nosso 1º em particular. Mas, e tal como refere, ficaria mais descansado se o Sr. Eng. José Sócrates – com aspas ou sem aspas - se disponibilizasse a ser investigado. E escrevo isto por uma razão muito simples e verdadeira:
É que “à mulher de César não basta ser honesta. Também tem que parecê-lo”.

A realidade, para além de todas as conjecturas politicas ou criminais, mostra-nos que este Sr. está metido em demasiadas embrulhadas para que possam ser resumidas a meras calúnias e/ou “campanhas negras”.
Foi a saga da licenciatura, com tantos episódios rocambolescos.
Depois foram as “casinhas” no Distrito da Guarda.
Mais recentemente apareceu o caso Freeport.

Tudo isto foi inventado?
Eu acredito que sim, mas também posso muito bem crer que tudo seja verdadeiro.

O Povo, na sua imensa sabedoria diz, de facto, que quem não deve não teme.
Vamos esperar.
Com um pouco de sorte, até pode ser que a nossa Justiça funcione bem, nem que seja por uma vez…

Anónimo disse...

Ouvir ou não ouvir José Sócrates, eis a questão que está a partir o Ministério Público. O clima de tensão é de tal ordem que foi preciso o procurador-geral dizer num comunicado que os magistrados podem inquirir quem quiserem. Ao DN, Lopes da Mota garantiu que vai continuar no caso. Conselho Superior do Ministério Público reúne-se hoje para discutir a polémica

"Só há um problema no caso Freeport:, ouvir ou não José Sócrates. O resto já está tudo praticamente feito." Foi desta forma que um inspector da Polícia Judiciária que acompanha a investigação descreveu ao DN o actual estado do processo. A decisão de ouvir formalmente o primeiro-ministro, seja como arguido ou testemunha, está a provocar um pequeno terramoto no interior do Ministério Público.

Segundo o mesmo interlocutor do DN, os investigadores "já ouviram quem tinham de ouvir e já têm em cima da mesa as perícias financeiras". Faltam ainda alguns elementos de Inglaterra. Mas, ainda de acordo com a mesma fonte, a investigação chegou ao ponto crítico: o que fazer com José Sócrates?

O primeiro-ministro, de acordo com a lei, pode prestar depoimento por escrito, obtida a autorização do Conselho de Estado. E, no interior do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), há duas teses: uma, a dos procuradores do processo (Vítor Magalhães e Paes de Faria), que defende a inquirição de Sócrates, a segunda, que já terá sido sugerida verbalmente pela directora do DCIAP Cândida Almeida, vai por uma linha de que não havendo suspeitas, nem indícios, não há qualquer necessidade de ouvir José Sócrates. No fundo, seria a mesma solução que a do processo Portucale, no qual há suspeitas de financiamento ao CDS/PP, mas Paulo Portas, como líder do partido, nunca foi ouvido no inquérito.

Por isso, é que várias fontes do Ministério Público salientaram ao DN o "ponto 4" do último comunicado do procurador- -geral da República: "A investigação prossegue com a inquirição de todas as pessoas que os magistrados considerarem necessárias(..)." "Se se fez questão em dizer isto, é porque algo não estava bem. Em qualquer processo, os magistrados ouvem quem acham que deve ser ouvido", resumiu ao DN um procurador-geral adjunto.

Exemplo claro da fractura bem exposta no Ministério Público foi a troca de declarações entre Cândida Almeida e João Palma, presidente do Sindicato do MP. Na Rádio Renascença, a directora do DCIAP criticou João Palma por "em vez de ter pedido uma audiência ao procurador-geral da República", ter falado publicamente em pressões. O presidente do Sindicato respondeu: "Parece-me que Cândida Almeida estará algo confundida com tudo o que se está a passar. A estima pessoal que tenho por ela impede-me de prestar, por ora, outros esclarecimentos."

Ontem, durante a reunião que juntou na Procuradoria-Geral da República Pinto Monteiro, Cândida Almeida, os procuradores do Freeport, Lopes da Mota, e a procuradora distrital de Lisboa, Francisca Van Dunem, ficou acordado que os envolvidos no caso das pressões estão disponíveis para fazer uma "declaração conjunta" ao Conselho Superior do Ministério Público. A informação foi dada aos conselheiros (ver caixa), anteontem, num e-mail enviado por Pinto Monteiro. Daí que a maioria tenha rejeitado a proposta de João Correia em ouvir presencialmente Vítor Magalhães, Paes de Faria e Lopes da Mota.

Em declarações ao DN, Lopes da Mota confirmou o acordado na reunião. O presidente do Eurojust, que ontem se encontrava na Lituânia, não quis prestar muitas declarações sobre a polémica. Questionado pelo DN se continuará a estar ligado à investigação, fazendo a ponte entre o MP português e a polícia inglesa, Lopes da Mota respondeu: "Não tenho nenhum motivo para deixar de trabalhar no caso. Eu também sou magistrado do processo." É neste clima de tensão que o Conselho Superior do MP se reúne hoje, com um único ponto na agenda de trabalhos: caso Freeport.

Tags: Portugal

marinheiros de sines disse...

Sobre toda esta questão, em que muita água irá correr (e nosso meu ver irá secar e nada acontcerá, infelizmente) é realmente preocupante e triste a figura que o Dr.Lopes da Mota anda a fazer.
Depois das suas (e de sua mulher) ligações perigosas no Caso Fátima Felgueiras (ainda está por esclarecer quem foi o magistrado "sugeriu" que ela fosse de férias ao Brasil) assume uma posição de protagonismo pelos piores motivos.
Era recomendável discrição, seriedade, imparcialidade, mas não e como se pode ver a teia é grande, extensa, complexa.
Seria bom também, talvez ver o papel e as ligações de outro "pressionista", o Ministro da Justiça Costa : http://revoltadaspalavras.blogspot.com/2009/04/alberto-costa-demissao-e-revogacao.html
É procupante.
É triste.
É negro.
E para evitar alguns comentários não me parece que a actual oposição seja tão inteligente para orquestrar as "várias" campanhas de que o PS e o seu líder se vitimiza: Casa Pia, licenciatura, casinhas na Guarda, Freeport, Ota, as negociatas do TGV, as pressões da C M Lisboa, a DREP, etc etc.
Se fosse assim inteligente e expedita estaria no poder!

Marius Herminius disse...

Com marinheiros como os de Sines até eu me fazia ao mar...
Estou completamente de acordo.
O problema, e já que falei em mar, é que temo que o resultado de todas estas cambalhotas - em que os saltimbancos são figuras gradas do regime – resulte numa gota de água, que qualquer raio de sol (refiro-me à “Justiça”) fará evaporar.
Depois há os palhaços, que são todos aqueles (nos quais me incluo) que mantêm o circo (que é Portugal) aberto todo o ano. E são esses (os palhaços) é que vão sentir o que é nadar num mar alterado, em que a Terra foge de nós a cada braçada e o abismo (que é a crise, moral também) está ali a sugar-nos para o fundo.
Haverá sobreviventes? Não sei. Talvez sim.
Haverá saltimbancos sem palhaços?
Tenho muitas dúvidas!