segunda-feira, 16 de março de 2009

Veteranos Vasco da Gama

Tivesse tanto engenho para jogar futebol como gosto em praticar e pediria meças ao Cristiano Ronaldo. Só este prazer em praticar desporto, particularmente futebol, e uma boa condição física, antes natural, hoje alimentada por umas boas dezenas de quilómetros de treino semanal e umas provas de 10 e 21 quilómetros ocasionais, me permitem ombrear, sem sair envergonhado, com aqueles que nasceram dotados para domar a bola e que parecem não se deixar fintar por ninguém, nem mesmo a idade.

Apesar de jogarmos periodicamente, se hoje chamo aqui este meu hobby, tal deve-se a um particular acontecimento da natureza humana.

É politicamente correcto dizer que nos veteranos o resultado não interessa, que é pelo convívio e prazer, etc. Mentira, digo eu. Como podem indivíduos preparados durante dezenas de anos a não perder, a disputar cada lance e conquistar cada metro de terreno, defendendo a camisola como a vida, a esquecerem tudo isto, só porque são veteranos. Impossível, afirmo eu.
Outra máxima do mundo dos veteranos é que o historial das equipas seniores, assim como os resultados anteriores enquanto veteranos, pouco contam. Existe aqui alguma verdade, porque grandes equipas seniores não representam a existência destes jogadores nos veteranos ou a manutenção das suas qualidades, assim como os resultados aqui são feitos de pequenos grandes acontecimentos, como uma jantarada na sexta-feira antes do dia do jogo.

Nós por cá existem duas coisas a que estamos habituados, uma é a normalmente ganharmos, outra a sermos das rarissímas equipas a jogar num pelado. A primeira depende quase exclusivamente de nós, a segunda inteiramente de terceiros.

Havíamos na 1ª volta recebido no pelado Municipal a equipa do Ermidense, se o nome do adversário nada fazia temer, o seu percurso de quase um ano sem derrotas, deixava-nos expectantes e cautelosos, de tal modo que ao intervalo ganhávamos por 3 golo, sem resposta, acabando o resultado numa vitória por 4-3. Pareceu-nos um adversário combativo, mas acessível.

Na 2ª volta, depois dos jogos em Mafra e Costa da Caparica, vamos então visitar o Ermidense, num dia excepcionalmente quente para a época, num pelado de gravilha, de reduzidas dimensões e com alguma displicência, sei-o hoje. Entramos num 4-4-2 clássico, comigo e o Vítor Canastra a tentar o golo.
Ao intervalo, o calor, o campo, a táctica, os jogadores, tudo estava errado, até o adversário está errado.

E aqui começa a história. O Belchior, cujo nome ganha dimensão de lenda nas palavras dos mais velhos que vamos encontrando nos campos que visitamos e a quem os anos vão diminuindo os minutos em campo e aumentando os de treinador, observou-nos em silêncio. Como um bando de maltrapilhos, suados, cansados, humilhados e envergonhados, pairava o silêncio. Foi então que em vez de apontar tácticas, faltas, queixas, culpas, Belchior falou do passado do Vasco e do que representava para quem ali num terra de pouco mais de 300 pessoas terá representado noutros tempos, no brio exigido a quem militou em 3ª e 2ª divisões nacionais, da dignidade exigida a quem fez estádios saltarem de alegria.
Vinte minutos depois ganhávamos por 4-3, com o mesmo calor, terreno, jogadores, adversários, nada mudou, excepto a motivação, empatando o Ermidense no último lance do encontro.

É incrível o que a motivação pode fazer, como se encontram forças que tinham desaparecido, como em cada lance estivesse em causa tudo, não existisse passado nem futuro, como se as dores musculares, os medos e os receios tivessem ficado fora das quatro linhas, junto do Belchior, à espera do fim do jogo, e tudo isto apenas com palavras.

E no jantar, instado pelo mais novos voltou o Belchior - que conheceu todos os jogadores do Vasco da Gama, como ele gosta de disser, e eu acredito - ao passado, bailaram nos seus olhos os velhos tempos, as vitórias sobre o Marítimo, o Espinho, o Estoril, o Guimarães, a derrota por 2-1 com o então glorioso Benfica, os derbys com o Santiago, reviravoltas históricas, as vitórias nos nacionais na 3ª divisão nacional, o topo da 2ª divisão, o dramático falhanço de acesso à 1.ª divisão no final do campeonato, jogadores brilhantes que a 1ª divisão levou, outros que o tempo esqueceu, andaram por ali mais uma vez, Ratinho, Edmilson, René, Vitor Madeira, Patan, Roçadas, Luís, Beto, Chico Chicão, Leonardo, e tantos, tantos outros, fintaram, driblaram, marcaram, defenderam, fizeram o Vasco grande vezes sem conta.

Devia o clube e a autarquia registar para a posteridade a história do clube e do Belchior - que se tocam e por vezes confundem - para que a memória oral não se deturpe e se perca, quando estes heróis partirem.

11 comentários:

Anónimo disse...

Um central tipo " alivia".lol
Saudades desses tempos...

Anónimo disse...

lol....tabém de me recordo da frase " alivia canastra"
Velhos e bons tempos , deixou saudades.....

Anónimo disse...

GRANDES JOGADORES E GRANDES JOGOS, QUE FICAM ETERNAMENTE NA RECORDAÇÃO DE TODOS NÓS!

Anónimo disse...

Dei uns toques aqui e ali, mas nunca percebi por que nesta terra onde existe um campo relvado, com manutenção feita todos os dias da semana por funcionários da Câmara, não pode ser utilizado pelos miudos e pelos veteranos ao fim de semana. É realmente uma vergonha para esta terra que em pleno seculo XXI, obriga estes homens e miudos a jogar num pelado.

Anónimo disse...

Concordo inteiramente contigo, penso que estes homens merecem todo o respeito e homenagens, pois se o Vasco da Gama Atlético Clube, tem o prestigio e reconhecimento hoje em dia, deve em grande parte a estes Homens, com H Grande.

Estação de Sines disse...

Recusei um comentário a este post que se referia à incorrecta gestão do campo relvado, e mencionava quem no entender do comentador é o seu verdadeiro "gestor".`
É um comentário comum entre as pessoas do meio, registo a sua opinião que espero comprenda opto por não publicar.

Anónimo disse...

O amigo braz, era um centralão de marcação implacável. tipo jogador militar que cumpria à riscas as ordens do mister, não arriscava, não deslumbrava, cumpria. concordo que a sua condição fisica e disponibilidade, escondia ou disfarçava atributos técnicos. foi com surpresa que nos reencontrámos nos veteranos onde se farta de marcar golos rivalizando com o canastra. dantes com o alberto, hoje com o vitor, ironia do destino.

Um grande abraço, para o ano voltarei ao veteranos, e já sabes ma estação de grândola uma cerveja pra mim um isosotar pra ti.

Estação de Sines disse...

Looooool.
viva amigão, tens feito falta.

bom trabalho e um abraço

Anónimo disse...

Depois de tanta conversa sobre os medos e que devemos ensinar os nossos filhos a não viver com medo, não compreendo o porquê da recusa a um comentário a este post que se referia à incorrecta gestão do campo relvado, e mencionava quem no entender do comentador é o seu verdadeiro "gestor".
Acho que os Pais destes miudos e os Sineenses devem e tém o direito de saber as razões para que tal aconteça.

Estação de Sines disse...

A recusa do comentário não se deve ao facto de achar incorrecta a gestão do relvado, deveu-se ao facto de avançar com nomes, de forma nada consistente. Se partilhar connosco a sua opinião sobre a gestão do relvado temos assunto, se se limitar a dizer que a culpa é do Zé Manel, não temos nada se não uma acusação. Esta é a diferença entre um comentário que promove a discussão e outro que promove a polémica.

Anónimo disse...

GRANDE EQUIPA E APROVEITO PARA MANDAR UM GRANDE ABRAÇO PARA O PATAN, QUE FOI UM DOS MELHORES CENTRAIS DO VASCO, COM TODO O RESPEITO POR TODOS OS OUTROS.


D.V.