quinta-feira, 5 de março de 2009

Aos voluntários e dadores anónimos


Hoje, quinta-feira, dia reservado à distribuição de alimentos a famílias carenciadas do Concelho de Sines, numa desgraçada contabilidade o número de famílias que recorrem à Cáritas Paroquial de Sines, superou as 250, desde famílias miseráveis e estruturalmente a ocasionalmente ou pontualmente pobres. Ficando, lamentavelmente de fora, um número não quantificável de pobres envergonhados, que não se inscrevem, aparecem noutro dia, a desoras, para não serem visto, para não lhes conhecerem o rosto de pobreza, porque sabem que esta é estigmatizante na nossa sociedade.

Muitos acreditaram que o trabalho bem remunerado, apesar de precário, se manteria, projectaram a sua vida de acordo com os rendimentos do momento, endividaram-se para adquirir a casa dos seus sonhos, fosse uma vivenda, ou apenas um T1. Hoje sem rendimentos e com a casa a valer menos do que divida ao banco, angustiam-se numa casa vazia a pensar nos necessários medicamentos, tratamentos, mensalidades do ensino dos filhos, a alimentação necessária e condigna até final do mês cada vez mais longo.
Depois existem os pobres, os mais pobres dos pobres, os que nunca tiveram nada, senão a esperança de poder comer mais um dia, sós, abandonados, sem estudos ou formação, muitas vezes toxicodependentes, que não conhecem os caminhos dos restaurantes da moda, os tecnopólos, os CAS, os FMM, o museu de Sines, não vão às inaugurações, nunca frequentarão as escolas de música, as piscinas municipais, os complexos desportivos, não visitam blogues, não lêem jornais, não frequentam as salas de voto, quase não existem para lá da sua presença física, são os invisíveis numa sociedade feita de visibilidade, os que nada tem numa sociedade materialista, os pedintes da sociedade do diploma fácil de Doutores. Ninguém melhor do que uma velha Brasileira, com a graça única e própria do seu povo, para resumir o seu estatuto: "Miníno, nóis pobre, dançamo fora da pista".

Onde se ausentam as entidades oficiais, depositárias dos nossos impostos, surgem os vizinhos, os amigos, os desconhecidos, que colaboram no esforço de instituições como a nossa. É estimulante perceber que muitos continuam a ser solidários, trocando horas de descanso e lazer por trabalho voluntário, a disponibilizar a sua viatura, e parte dos seus meios financeiros para amenizar temporariamente o sofrimento alheio.
Uma das histórias mais marcantes que ouvi de uma das voluntárias da Cáritas, que calcorreia as áreas rurais, onde para além da pobreza material, enfrentam uma chaga social dramática, chamada solidão, refere-se a um casal de idosos que vivem sozinho numa casa isolada para os lados da Provença. Normalmente envergonhados por receberem alimentos - mais por indisponibilidade de deslocação do que por falta de dinheiro -, invariavelmente a mulher desloca-se à pequena horta, que os problemas de coluna permitem semear, colhe legumes e verdura e pede para os levarmos a quem precisar. Naquele dia enquanto a mulher dobrada apanhava os frutos da terra, o homem praticamente cego, regressado à pouco do hospital, sentado à mesa molhava o pão no sangue que lhe escorria do braço para dentro do almoço. São episódios destes que tornam os voluntários, movidos unicamente pelo amor ao próximo, nos heróis dos nosso tempo e a ideia de Deus que acalenta esta gente, um motivo de inspiração. Está na altura de partilhar, de cada um de nós dar uma parte do muito ou pouco que tem.


Este post é dedicado a todos os voluntários, amigos e doadores particulares não só da Cáritas, mas de todas as instituições que contribuem para que a esperança não esmoreça, no rosto de cada necessitado. Porque a fome existe, também em Sines e algures perto de si.

7 comentários:

Anónimo disse...

pugente e realista, um freco da sociedade em que vivemos. Arrepiante o discurso.

Voltarei a este blog, rendi-me a escrita.

Parabéns

Anónimo disse...

Talvez por a vossa, pintainho, gestão e qualidade de ensino ser uma lição para os despesistas desta terra, eles não os apoiem. Vocês ainda criam mau hábitos aos sinienses, mostrando que é possível fazer muito e bem, sem estar de barriga cheia encostados à mesa do orçamento.

Parabéns e continuem o bom trabalho, sines agradece e reconhece

Anónimo disse...

Informem Sines e os Sinienses, principalmente quem vai votar, desta vez é mesmo verdade cada voto conta.

Fundamental e o Acessório disse...

Se todos e cada um de nós fizer só um pouco pelo vizinho da frente ou do lado, este mundo seria melhor.

Que Deus vos abençoe voluntários em todas as causas.

Anónimo disse...

Foi na ultima Assembleia Municipal provada por hunanimidade uma moção , apresentada pelo deputado independente Sr. Acácio em que se pedia uma homenagem por parte da CMS a todos os voluntários que contribuiem com o seu esforço e tempo gratuito a ajudar os outros em instituições,associações,clubes, hospital,B.V., etc,etc, no concelho de SINES
Esperemos que não caia em saco roto ou no esquecimento da CMS ( como é ano de eleições é natural que não se esqueçam).
Espero e desejo que se vierem a fazer alguma coisa que façam uma investigação séria e profunda para ninguém ,mas mesmo ninguém cair no esquecimento.Não sei a certeza mas parece-me que há um estatuto do voluntário a nivél nacional, para não ferir susceptibilidades é muito importante que se defina o que é o voluntariado.Por exemplo para mim o voluntariado que se exerce num clube (por exemplo de Futebol) é um voluntariado muito especial e descutível são tantas as asneiras que se praticam que por vezes caiem na justiça e prejudicam tanta e tanta gente que não sei se se poderá chamar de trabalho voluntariado , mais das vezes é para promoção pessoal, só que o tiro sai pela culatra.
Conheci muitas brigadas da mão gelada(copo de wisky na mão)e grupos de excursionistas, grupos de jogadores de batota e grupos de almoçaradas organizados nos clubes, isto é voluntariado? Muito Cuidado quando homenagearem algum voluntário tem de ser muito investigado e escalpelizadoTodos nós ja ouvimos histórias e muitas histórias sobre voluntários que estão sob suspeita nas instituições onde exercem , principalmente os que lidam com a parte financeira,muitas das vezes injustamente e infundadas , mas.....quem mexe na colmeia é muito dificil não lamber os dedos, mas felizmente há os que resistem e até não gostam de mel


VIVA o VOLUNTARIADO SÉRIO E SEM APRETENSÃO DE RETIRAR BENEFICIOS PRÓPRIOS.

Anónimo disse...

como estão a levar isto para a politica aqui vai, fundamentalmente se não votarmos nesta politica socialista onde o rico está cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre, onde a corrupção é protegida (isto se fores da cor), onde a justiça tem uma punição diferente (tem dinheiro ou não), onde a classe média está a acabar e é ela que sustenta o país, até nos ordenados se fala em congelamento e no entanto os deputados europeus vão duplicar os seus, vivemos numa politica em que daqui a uns anos as nossas reformas vão ser metade dos vencimentos, onde os indices do desemprego são bem mais altos que os divulgados.
Infelizmente o que não falta é pobreza e quando posso ajudo ou com alimentos ou com roupas e até com brinquedos, mas também sei que há quem não precise e se aproveita destas situações para levar para casa.

É TRISTE TENTAR ALIAR A AUTARQUIA A SITUAÇÕES QUE NÃO TÊM NADA A VER.
JÁ AGORA UMA QUESTÃO DE QUEM ERA O TERRENO ONDE ESTÁ A SER CONSTRUIDO O PINTAINHO E BEM?
FORÇA E SUCESSO PARA TODAS AS ASSOCIAÇÕES QUE VISAM AJUDAR O PROXIMO.

Anónimo disse...

Quandos post's destes não tem aceitação pelo criticos dos blog's,estão a dizer tudo, depois vem criticar que os candidatos que são sempre os mesmos e blá,blá, querem é conversa fiada e criticar por criticar.