A ex-futura Refinaria Vasco da Gama
Desde a década de 70 do séc. XX, tem sido recorrente o anúncio de grandes investimentos para Sines, gerando legítimas expectativas. Muitos deles ficaram pela intenção ou pecaram por defeito, tornando-se projectos adiados ou amputados na dimensão anunciada.
Contudo três décadas e meia de desenvolvimento industrial, originaram profundas transformações sócio-económicas e ambientais, sendo hoje Sines uma pequena cidade multiétnica, com tiques cosmopolitas e indicadores económicos superiores à média nacional, mas que, por outro lado, geraram tensões e desenraizamentos sociais, especulação e níveis de poluição preocupantes.
Assim, não é de estranhar que a maioria dos Sinienses aplauda o novo investimento e simultaneamente à diminuição do nível de poluição. Infelizmente, em 35 anos, aprendemos que monitorização e fiscalização da poluição e empresas não fazem parte do léxico político, sem tradução no terreno, onde apenas as normas comunitárias trouxeram alguma esperança.
Durante anos o poder local apontou no turismo a par da indústria como modelo de desenvolvimento, sem querer aceitar que o caminho a trilhar não é decidido nos Paços do Concelho, mas no Terreiro do Paço e nas salas de reunião dos grandes grupos económicos como comprova o facto de a autarquia ter tomado conhecimento do actual investimento, como um dado adquirido, quando grupos económicos já se tinham, entretanto, movimentado no xadrez político.
Com a construção de uma mega-refinaria, a aposta turística, que não seja alicerçada no turismo de negócios, não passa de um sonho romântico, com a Praia Vasco da Gama como triste pano de fundo. Esta certeza encerra novos e velhos receios e desafios.
Sines e áreas limítrofes têm sofrido os efeitos da poluição gerada por todas as empresas do Complexo Industrial, que em menor ou maior grau, mais ou menos vezes, não cumprem ou deixam de cumprir as normas a que estão obrigadas.
A construção da nova refinaria deve ser encarada como uma oportunidade de assegurar:
- A realização de um estudo epidemiológico; que determine os efeitos da poluição gerada no complexo industrial sobre a saúde das populações circundantes, pois, manter o actual estado de desconhecimento é inaceitável;
- A monitorização e fiscalização do desempenho e cumprimento das normas ambientais por uma entidade independente;
— A correspondência da unidade aos mais modernos e exigentes sistemas de produção, podendo «forçar» as restantes unidades a seguir o seu modelo.
Conheço as promessas não cumpridas, a forma impune como se polui, a impotência da autarquia e dos políticos locais para solucionar estes problemas, daí que o meu optimismo não resulte da ingenuidade mas da existência de unidades de refinação noutros países, que cumpridoras das regras ambientais, não sendo inócuas, são compatíveis com uma elevada qualidade de vida e respeito pelo meio ambiente.
Um novo centro de saúde, uma unidade de queimados no Hospital do Litoral, adequar os Bombeiros Voluntários para responder a um acidente industrial de larga escala, informar e preparar a população para planos de emergência devem passar a ser realidade e não objecto de constante reivindicação.
O aumento populacional resultante de um novo êxodo migratório provocará tensões sociais acrescidas, numa sociedade que começa a dar sinais evidentes de insegurança, e torna necessário o reforço das forças policiais e sua adequação a uma cidade cada vez mais urbana e complexa.
Colocar a possibilidade da existência de quotas de emprego e trabalho para os Sinienses e suas empresas, no novo investimento, seria não só discricionário, como contraria uma politica baseada no mérito.
Aos Sinienses devem ser criadas as condições necessárias para ser competitivos no mercado de trabalho, por mérito próprio e não de mão estendida.
Após a construção, seguir-se-á a fase de laboração, mais exigente em especialização e formação. A resposta passa por uma parceria entre o investidor, autarquia, IEFP e empresas locais, no sentido de;
- Reforçar a formação técnico-profissional nas áreas importantes para o funcionamento da nova unidade industrial;
- Incentivar a criação de um Instituto Politécnico, ligado às actividades do complexo industrial de Sines;
- Apostar no desenvolvimento baseado num cluster energético, que capte investidores que apostem em I&D em energias renováveis, aproveitando as condições naturais existentes, como os ventos, o elevado número de horas de exposição solar e as marés.
“Texto publicado no semanário Expresso, em 5 de Novembro de 2005.”
Desde a década de 70 do séc. XX, tem sido recorrente o anúncio de grandes investimentos para Sines, gerando legítimas expectativas. Muitos deles ficaram pela intenção ou pecaram por defeito, tornando-se projectos adiados ou amputados na dimensão anunciada.
Contudo três décadas e meia de desenvolvimento industrial, originaram profundas transformações sócio-económicas e ambientais, sendo hoje Sines uma pequena cidade multiétnica, com tiques cosmopolitas e indicadores económicos superiores à média nacional, mas que, por outro lado, geraram tensões e desenraizamentos sociais, especulação e níveis de poluição preocupantes.
Assim, não é de estranhar que a maioria dos Sinienses aplauda o novo investimento e simultaneamente à diminuição do nível de poluição. Infelizmente, em 35 anos, aprendemos que monitorização e fiscalização da poluição e empresas não fazem parte do léxico político, sem tradução no terreno, onde apenas as normas comunitárias trouxeram alguma esperança.
Durante anos o poder local apontou no turismo a par da indústria como modelo de desenvolvimento, sem querer aceitar que o caminho a trilhar não é decidido nos Paços do Concelho, mas no Terreiro do Paço e nas salas de reunião dos grandes grupos económicos como comprova o facto de a autarquia ter tomado conhecimento do actual investimento, como um dado adquirido, quando grupos económicos já se tinham, entretanto, movimentado no xadrez político.
Com a construção de uma mega-refinaria, a aposta turística, que não seja alicerçada no turismo de negócios, não passa de um sonho romântico, com a Praia Vasco da Gama como triste pano de fundo. Esta certeza encerra novos e velhos receios e desafios.
Sines e áreas limítrofes têm sofrido os efeitos da poluição gerada por todas as empresas do Complexo Industrial, que em menor ou maior grau, mais ou menos vezes, não cumprem ou deixam de cumprir as normas a que estão obrigadas.
A construção da nova refinaria deve ser encarada como uma oportunidade de assegurar:
- A realização de um estudo epidemiológico; que determine os efeitos da poluição gerada no complexo industrial sobre a saúde das populações circundantes, pois, manter o actual estado de desconhecimento é inaceitável;
- A monitorização e fiscalização do desempenho e cumprimento das normas ambientais por uma entidade independente;
— A correspondência da unidade aos mais modernos e exigentes sistemas de produção, podendo «forçar» as restantes unidades a seguir o seu modelo.
Conheço as promessas não cumpridas, a forma impune como se polui, a impotência da autarquia e dos políticos locais para solucionar estes problemas, daí que o meu optimismo não resulte da ingenuidade mas da existência de unidades de refinação noutros países, que cumpridoras das regras ambientais, não sendo inócuas, são compatíveis com uma elevada qualidade de vida e respeito pelo meio ambiente.
Um novo centro de saúde, uma unidade de queimados no Hospital do Litoral, adequar os Bombeiros Voluntários para responder a um acidente industrial de larga escala, informar e preparar a população para planos de emergência devem passar a ser realidade e não objecto de constante reivindicação.
O aumento populacional resultante de um novo êxodo migratório provocará tensões sociais acrescidas, numa sociedade que começa a dar sinais evidentes de insegurança, e torna necessário o reforço das forças policiais e sua adequação a uma cidade cada vez mais urbana e complexa.
Colocar a possibilidade da existência de quotas de emprego e trabalho para os Sinienses e suas empresas, no novo investimento, seria não só discricionário, como contraria uma politica baseada no mérito.
Aos Sinienses devem ser criadas as condições necessárias para ser competitivos no mercado de trabalho, por mérito próprio e não de mão estendida.
Após a construção, seguir-se-á a fase de laboração, mais exigente em especialização e formação. A resposta passa por uma parceria entre o investidor, autarquia, IEFP e empresas locais, no sentido de;
- Reforçar a formação técnico-profissional nas áreas importantes para o funcionamento da nova unidade industrial;
- Incentivar a criação de um Instituto Politécnico, ligado às actividades do complexo industrial de Sines;
- Apostar no desenvolvimento baseado num cluster energético, que capte investidores que apostem em I&D em energias renováveis, aproveitando as condições naturais existentes, como os ventos, o elevado número de horas de exposição solar e as marés.
“Texto publicado no semanário Expresso, em 5 de Novembro de 2005.”
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