quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Filme do desassossego


Ontem à noite Fernando Pessoa esteve no centro de artes de Sines, numa sala meio cheia em que vi projectados numa tela esticada no palco, os sonhos que foi transpondo para palavras escritas em folhas de papel soltas e dispersas. Há coisas que não se conseguem mudar, palavras que só vivem quando lidas por nós, imagens que nunca conseguirão ser postas em palavras, sons que nunca se conseguirão explicar, sensações que nos gelam num instante e que só mais tarde percebemos. Há coisas que mais vale deixar como estão, e o livro do desassossego merece o devido sossego da solidão da leitura, com os fantasmas e as dúvidas de quem o lê, voltando atrás quantas vezes forem precisas, ao ritmo da leitura de cada um de nós e não dito por outro qualquer.

Gostei das palavras do realizador João Botelho e da sua aparente simplicidade, pareceu-me sincera a admiração e respeito que nutre por Pessoa. Talvez por isso, tenha visto o filme que aguardava com a expectativa de um menino, de uma forma mais descomprometida. No fim levantei-me, com a consciência de que a missão impossível de realizar um bom filme, com base num livro inacabado de pensamentos de alguém como foi e é Pessoa, não foi cumprida, pura e simplesmente porque o que é impossível não pode ser feito por meros mortais.

Mas a uma sala de cadeiras desconfortáveis, com uma acústica muito má, o filme do desassossego chegou antes mesmo de passar pelo CCB em Lisboa, e isso diz muito sobre como Sines é visto pela cultura nacional. E enquanto ali estive, naquela sala escura meio cheia, senti-me como se estivesse numa cidade cheia, numa cidade limpa , numa terra cuidada e preservada para que quem ali habite, pudesse sentir-se realizado só por ali viver. Mas entretanto o filme acabou com poucas palmas e a porta das traseiras abriu-se para uma rua de pedra, emparedada por uma fachada antiga de um lado e uma parede de pedra da mesma cor do chão, sem que nada ali fizesse sentido nenhum e eu, desci em direcção ao mar, pela rua que ainda guardo como a minha primeira memória de Sines, como se quisesse adiar a realidade mais uns minutos.

Mas acho que a realidade nos persegue tanto mais quanto queremos fugir dela, e bastaram as ruas desertas, a calçada disforme, os caixotes de lixo cheios e as ruas esburacadas, para que ela me aprisionasse de novo e só me voltasse a libertar quando me deixei dormir e sonhei de novo.

12 comentários:

MLança disse...

Realmente Sines vive uma epoca de grande desassossego. O titulo do filme não podia vir mais a prepósito tendo em conta o que se passa em Sines. A demagogia a mentira continuada sobre obras e mais obras não apaga o que se vive em Sines hoje, sim hoje, onde os buracos nas ruas são uma autentica calamidade uma vergonha uma tristeza sem fim, revelador de um desrrespeito enorme pelas pessoas. A situação chegou a um limite tal que eu não sei mas gostaria de saber se aquelas pessoas que fortemente apoiam esta camara se se sente identificadas com esta despedorada vergonha.
Desde estradas cujo tapete ficou a meio como é o caso da estrada da Costa do Corte, da rotunda da Costa do Norte cuja obra se arasta á meses, desde ruas esburacadas por toda a cidade, desde a estrada para o Poiol vergonha das vergonhas o seu estado de conservação, isto para não falar no espoente maximo da maior das vergonhas que são os acessos a Porto Covo.
Estas são situações concretas á vista de toda a gente. Não venha a Camara dizer agora que é da intemperie, porque a verdadeira imtemperie, o verdadeiro desastre e ter-mos uma camara só virada para as grandes obras para o sonho de ralizar grandes coisas num momento em que deveria tratar daquilo que mais falta nos faz.
Sines tem um bom Centro de Artes? Sim talvez.
Sines vai ter uma cidade desportiva?
Talvez venha a te-la.
O que Sines tem e isso todos sabem e vêm já o disse antes e tá a vista de todos.
Este é o nosso DESASSOSSEGO.
MLança

Anónimo disse...

Parabéns Bruno,como escreve este texto.
Compreendo perfeitamente o sentimento que deixa transparecer do estado de Sines.
Eu como filha de (terra) sinto tristeza de ver como se encontra.
Só e Triste.Não se vê ninguém e não se conhece também.
Bom Natal para si.
Isabel Aurora

Anónimo disse...

Amigo Lança,

No seguimento da conversa que hoje tive consigo no meu local de trabalho, aproveito para acrescentar á sua lista de dinheiro mal gasto e consequente desrrespeito pelos municipes, duas obras que estão a concurso publico:
- Ligação vertical da Av. Vasco da Gama ao centro histórico;
- Revestimento interior para insonorização da Estação Ferroviária de Sines (escola de musica;
Mais duas obras que vão causar muito desassossego nas contas da nossa autarquia.

Anónimo disse...

Parabéns ao Sr bruno e Sr LANÇA
Sinceramente para o estado em que se encontra a Vila de SINES e PORTO COVO não precisava-mos que alguém viesse de tao longe e muito menos medico
Nos por cá fazíamos melhor

Anónimo disse...

Até para falar de algo que o sensibilizou precisa de misturar a política? Nem a poesia de Pessoa ou as imagens de J. Botelho o desligaram? Bolas, incomodam assim tanto as pedras, mesmo que não goste da sua textura ou do frio? Conte-nos Bruno, o que fez pela sua amada cidade sem ser escrever sobre ela e criticar tanto quem a governa? Gosto da forma como escreve, revela alguma sensibilidade e inteligência, irrita-me o facto de ser sempre político partidário e tendencioso. Penso que poderia dizer mais, escrever sobre outras coisas, tocar-nos. A política fá-lo mais pequeno daquilo que potencialmente poderia eventualmente ser. É pena.

Anónimo disse...

A proposta por parte da Câmara de revitalizar o centro histórico é quase tão velha como o próprio centro histórico.
Estes pensadores da câmara julgam que fazendo um concerto de cordas nos Penedos, meia dúzia de palhaçadas no Largo dos correios e uma desgarrada de gaitas de foles no átrio da Igreja matriz, pronto, temos o centro histórico renovado e agora tiveram mais uma grande ideia, a de fazer um elevador entre o mesmo e a avenida o que pelo menos tem um grande dom, o de evacuar mais rápidamente as pessoas do centro histórico para a praia, deixando o dito a curtir sózinho a sua sina.
As casas velhinhas do centro histórico têm na sua maioria trinta metros quadrados num só piso e se serviram para nelas nascerem e serem criados muitos dos nossos ilustres governantes, esses mesmos hoje não as querem nem para casota do cão.
Hoje um casal novo tenta adquirir uma casa dessas e pensa que ainda conseguiria fazer alguma casita de jeito se lhes fosse permitido fazer mais que um piso, mas aí esbarra logo com as leis impostas pela Câmara e outros organismos, que não pode aumentar a volumetria e a traça e as cores e mais uma carrada de exigências.
Claro que estas exigências são só aplicadas a alguns, para outros é á tromba estendida, vejamos por exemplo isto: há alguém em Sines que se lembre de haverem cinco águas furtadas no antigo quartel da Guarda Fiscal, mas elas estão lá, ainda bem porque senão a pessoa que reconstruiu o edifício se calhar não o tinha feito.
A Câmara quer um centro histórico igual ao do tempo do Vasco da Gama, é o que tem, pelo menos até que as casas desabem o que nalguns casos já não falta assim tanto tempo.
Por tudo isto e muito mais estes palhaços vão ter que gastar muitas cordas, mudar muitos foles ás gaitas e nunca conseguirão recuperar assim o centro histórico.

Bruno Leal disse...

Não é política, é vida... A minha, a sua e a de todos.
Boas festas a todos!

Anónimo disse...

Palavras, Bruno, leva-as o vento. De acções se faz a vida. O problema é que, quando agimos, corremos sempre o risco de sermos criticados.

Sou uma pessoa de acção, não pertenço a nenhum partido e não costumo votar. Não o conheço pessoalmente, mas reconheço-lhe potencial, como ser humano sensível.
Também tenho a minha opinião, logicamente, sobre o que se passa na nossa cidade. Mas não tenho nenhuma paciência para a política dos partidos, as animosidades, a inacção da oposição, a crítica isenta de movimento efectivo.

Já cansa ler aqui sobre os buracos das ruas e as gaitas dos outros. Tapem os buracos, toquem outras músicas, ponham os narizes vermelhos que saberão o que é, verdadeiramente, a alma de um palhaço.

Façam uma boa lista, apresentem ideias concretas, incentivem-nos a esperança, estimulem-nos o pensamento e a acção solidária. Agora, só a crítica, massiva, corrosiva, revestida de ódios de estimação, iguais ou ainda piores do que os do poder...acho que o Bruno pode estar acima de tudo isso, se quiser.

Desafie-se, desafie-nos. Há poucas pessoas com capacidade para edificar sonhos, tornando-os realidade, mesmo que doa, mesmo que demore.

As palavras, isoladas da acção, mesmo com a importância que têm, não mudarão as cores das pedras e o desconforto dos lugares onde nos sentamos.

Boas Festas.

Anónimo disse...

Sim senhor, muito elucidativo e contundente este comentário do anónimo das 2:19.
Ficámos a saber que é uma pessoa que: "Sou uma pessoa de acção, não pertenço a nenhum partido e não costumo votar" e depois disso? Algo mais?.
Realmente é muito mais fácil e cómodo ignorar que os problemas aqui apresentados não existem e que está tudo na paz do Senhor.

Boas Festas, também para si.

Anónimo disse...

No PORTO COVO chegou-se ao ponto de os automobilistas fazerem sinais de luzes derivado aos buracos
São os mesmos do ano passado
A intempere já não pega
Os impostos que pagamos será que não chegam
E que pagamos as taxas máximas em tudo
No dia de NATAL muita gente gosta de vir tomar um café ao PORTO COVO

Anónimo disse...

Relativo à resposta do anónimo 5:47 PM, Dezembro 25, 2010:

Então para estar atento e agir é preciso pertencer a partidos e votar?????

Este comentário faz-me sublinhar tudo o que escreveu o anónimo das 2:19 AM, Dezembro 25, 2010.

Anónimo disse...

Ainda se fala nas estradas de Porto Covo, pensava que eram águas passadas, que tudo estava arranjado, que a estrada tinha sido feita em Setembro e como estamos em Dezº (finais) tudo estava resolvido
Mas não
Então perguntem ao lambe botas do presidente de junta que ao principio parecia um defensor da vossa terra e neste momento talvez esteja a pensar mudar de terra para não estragar mais o carro nos caminhoa de cabras que vão dar a Porto Covo