Dr. José Miguel da Costa, ao centro na imagem, com os seus amigos Joaquim Barbosa e a irmã deste
Breve biografía de Dr.José Miguel da Costa (1922-2005)
Nasceu em Sines a 26 de Novembro de 1922, filho de Joaquim da Costa e Maria Rufina de Jesus Costa, teve uma irmã de nome Maria Rufina da Costa (14/4/24 – 16/4/26) que faleceu com 2 anos de idade.
Fez a instrução primária em Sines, tendo como professores Sines Fernandes e a Ana Borregana Lopes Paulo.Com o falecimento dos seus pais , como era menor, foi internado num colégio em Lisboa onde completou o liceu, o seu tio José da Costa foi o
seu tutor até atingir a maioridade, e como seu educador teve o seu tio materno prof. Manuel Loureço Rita.
Em 1942 fez os preparatórios de medicina , na faculdade de ciências da universidade de Lisboa; em 1943 entrou para a faculdade de medicina de Lisboa, interrompendo o curso em 1946 para cumprir o serviço militar em Bragança, como aspirante a oficial miliciano; promovido a alferes miliciano no ano seguinte, esteve nas 1ª manobras da 1ª Região Militar em 1951, sendo promovido a tenente miliciano um ano depois.
No ano de 1952 frequentou o 3º e 4º ano de faculdade de medicina da universidade de Coimbra, é neste altura que trocou a medicina por a arqueologia , embora já antes se dedicasse desde miúdo à Geologia e História, que foi aprendendo nos livros de seu pai e tios.
Os primeiros passos para a arqueologia começam em 1938, com o arqueólogo Dr. J.O. Cruz e Silva (fundador do Museu Municipal de Santiago do Cacém), no Cerro do Banheiro onde acompanhou os trabalhos ali realizados, tal como na herdade da Provença , Monte Novo, Vale Pincel, Boavista , Quin6ta da Lameira , Chãos, Porto Covo , Cerca do castelo de Sines , Aldeia dos Chãos , Castelo Velho, Palmeira e hipódromo de Mirobriga, nos concelhos de Sines e Santiago do Cacém.
Em 1946 Visita o Museu de Bragança , onde conheceu o Abade do Baçal com que quem muito contactou e muito aprendeu.
Em 1945, a convite da Câmara Municipal de Sines organizou e fundou a Biblioteca Pública de Sines, passados 27 anos é novamente convidado pela Câmara Municipal de Sines para reorganizar a Biblioteca Pública de Sines, reabriu ao público em 2 de Novembro de 1972 .
Em 1948, fez uma visita de estudo aos museus do País que durou um mês; dois anos depois, visita os museus de Madrid , Cordoba e Sevilha onde adquiriu mais conhecimentos no campo museológico e arqueológico.
Em 1951 manteve contactos com o antigo Ministério das colónias direcção geral da fazenda para comprar o forte da ilha do Pessegueiro, o que só não veio a suceder porque apenas o referido Ministério apenas estva disponíel para arrendar o imóvel, não vender.
Em 1954 volta a percorrer os museus nacionais. Em Setembro de 1957 fez uma viagem pela Europa mediterrânea afim de estudar os Museus e monumentos, passando por Cádis, Almeria ,Málaga, Murcia, Valencia , Tarragona , Barcelona, Arles, Nice , Marselha, Nimes, Génova ,Roma , Pádua , Veneza, Milão regressando por Lion e Bordéus .
Em 1958 , o professor Dr. Manuel Heleno faz-lhe o convite para trabalhar com ele em Tróia e no museu Dr. Leite de Vasconcelos .
Nos finais dos anos 50, convida o seu amigo João Correia como professor para colaborar na campanha contra a analfabetismo entre os seus trabalhadores agrícolas na Provença.
Em Dezembro de 1959 visita os museus de Bruxelas e París .
Nos anos de 1955,1956,1957 são feitas na Vila de Sines obras de saneamento, tendo a expensas suas salvo o riquíssimo espólio arqueológico que vai dar contributo para a fundação do Museu Arqueológico Municipal de Sines, inaugurado em Novembro de 1962.
Em 1960 conhece o Sr. Prof. Dr. D. Fernando de Almeida, que no Verão desse mesmo ano o convida a dirigir as sondagens da cerca exterior do Castelo de Sines , em busca dos alicerces da Basílica visigótica do séc.VII , nos anos de 1962, 1963 encontra 3 conjuntos de cetárias Romanas, restos de habitações, um forno de cerâmica, um poço etc.
Das muralhas do castelo de Sines retira 55 peças lavradas , pertencentes a dita Basílica do séc. VII assim como restos de bases e colunas romanas. O espólio encontrado nesses anos foi publicados por os professores Adilia e Jorge Alarcão.
Conheceu os arqueólogos Dr. Fernando Nunes Ribeiro, Dr. D Maria de Lurdes da Costa Artur, acompanhando-a nas campanhas de Mirobriga , travou conhecimento com arqueólogo prof. Abel Viana; após ter mostrado todo o espólio recolhido até a data, todos estes grandes arqueólogos portugueses o aconselharam e incentivaram a publicar e até mesmo a fundar um museu em Sines.
Em 1962, por sua iniciativa e à sua custa, organizou e fundou o Museu Arqueológico Municipal de Sines. Em 30 de Dezembro de 1962`é inaugurado o Museu no edifício da Câmara Municipal de Sines , onde ocupou 3 salas com o espólio arqueológico das obras de saneamento, das sondagens da cerca exterior do Castelo e de outros achados do concelho de Sines, em 1963 este espólio é enriquecido com 17 pedras lavradas provenientes do convento da nossa senhora do Loreto (Santiago do Cacém ).
Em Junho de 1966, por intermédio do prof. Dr. Manuel Heleno, informou a junta nacional de educação do achado do Tesouro do Gaio ( 1 de Maio de 1966 ) e um mês depois , à sua custa, dirige as sondagens no local do achado
Em Novembro, faz uma comunicação ao Instituto Português de Arqueologia História e Etnografia sobre o tesouro , a esta comunicação assistem entre outros o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Sines o prof. Carlos Manafaia .
Em Outubro de 1967 é autorizado pelo Prof. Manuel Heleno, e com um subsídio da C.M.S, a continuar as escavações na Herdade do Gaio.
A 16 de Março de 1969 , devido a um Sismo, o Museu instala-se provisoriamente na sua moradia, ocupando 9 divisões e aberto ao público.
Em 1972, para comemorar o 2º aniversário do museu organizou com o prof. Fernando de Almeida uma série de palestras sobre arqueologia, história e etnografia do concelho de Sines, uma grande exposição sobre armas do séc. XVI ao séc. XX e uma exposição de documentos e publicações sobre Sines , que foram filmadas e transmitidas 2 dias depois na RTP.
Em 1972 colabora com a secção de arqueologia, agregada ao Gabinete da área de Sines, onde trabalha na necrópole da idade do bronze da herdade da Provença , com os arqueólogos Farinha dos Santos , Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares.
No mesmo ano faz uma nova comunicação sobre o tesouro do Gaio – novos achados- dando conhecimento dos seus trabalhos de Outubro de 1967.
Os anos de 1972-73 foram intensos para o Dr. José Miguel da Costa pois realizou uma série de palestras em Sines integradas nos festejos do 10º aniversario do Museu, onde estiveram os melhores arqueólogos , historiadores, geólogos ,etc. do País.
De 1973 a 1982 faz um interregno em relação as escavações, dedicando-se as visitas dos Museus de Portugal e estrangeiro e apresentando o seu trabalho sobre o tesouro do Gaio (entretanto publicado).
Pelo meio dá-se o 25 de Abril . Entretanto é criado o Gabinete de Arqueologia do Gabinete da Área de Sines pelo Dr. Carlos Tavares da Silva e pela Dr. Joaquina Soares, onde o Dr. José Miguel da Costa não aceita integrar.
Não podemos esquecer, que depois de o Museu ter saído da Câmara Municipal de Sines para sua casa teve que ser criado os Amigos do Museu de Sines , porque lhe foi retirado os subsídios e o ordenado ao funcionário Sr. Joaquim Baptista Vilhena da Silva, que foi pago por os amigos do Museu e por ele. Com a presidência de Carlos Lopes Paulo, 1974 ,o funcionário Joaquim Martins é reintegrado nos quadros da C.M.S e o Museu volta a ter subsídios assim como outros problemas são resolvidos devido a insistência do Dr. José Miguel Costa .
Depois de algum tempo por Lisboa, embora vindo temporariamente a Sines, volta em 1981 devido a obras na sua casa. O ano de 1981 começa com as comemorações do 20º aniversario do Museu.
É a partir deste ano que a Maria do Carmo e eu entramos para o Museu, e como ele costumava dizer “ Quero sangue novo, para que isto não se perca...”
1981 – Ao fim de alguns anos em Lisboa, vindo a Sines só no Verão; é neste ano que se “ radica “ na sua terra natal, faz grandes obras na sua casa.
No ano de 1982 dedica-se de alma e coração ao museu com o objectivo da criação de um museu de raiz, tem várias reuniões com a C.M.S que lhe dá carta branca para avançar, tinha como objectivo criar o museu no triângulo castelo/C.M.S/e a sua casa (Museu), convida para vir a Sines o arquitecto Dr. Fernando Lhanas, que ficou encantado quer com o rico espólio, quer com Sines e as suas gentes, com os quais teve contacto.
Em Setembro de 1982 visitou o norte do país, nomeadamente Porto, Guimarães, Braga, Viana do Castelo, Coimbra e Coninbriga.
No plano do Museu, dinamizou-se com várias exposições integradas no 20º aniversário do Museu, a 1ª foi em 1982 com postais e quadros com vista sobre Sines que no fim foi emprestada ao Museu Arqueológico de Setúbal.
Ainda em 1982 fez-se uma exposição de etnografia sobre Sines com a ajuda do Poeta Al Berto sendo o cartaz de divulgação de sua autoria.
No final de exposição ficou a criação da parte de etnografia do Museu que até então era só de arqueologia .
No final de 1982, de 14 de Setembro a 14 de Outubro, é inaugurada a exposição do grande pintor Emmerico Nunes, onde se reuniram um grande número de quadros emprestados pela família e particulares e também com os seus quadros, não esquecendo o material sobre a vida e obra do pintor, que ficaram expostas em conjunto com as pinturas.
Em 1985 esteve 3 dias no 3º congresso sobre o Alentejo em Elvas. Depois visitou Nisa, Castelo Branco, Idanha-a-Nova e Idanha-a-Velha, esta última por causa da arte visigótica, e por fim Guarda .
Em 1988 faz uma exposição sobre Vasco da Gama, com o material dele, entre vários livros, moedas, medalhas, etc.
Em 1989 esteve presente nas 2ª jornadas de arqueologia em Monforte, visitando todo o distrito de Portalegre e deslocando-se 3 dias a Mérida afim de conhecer a colecção de arte visigótica existente naquela cidade.
Nos anos 80/90 amplia o Museu de 6 salas para 9 criando duas exposições temporárias um a de numismática /notofilia e uma outra de História natural (fósseis , rochas, minerais etc.)
No dia do Município de 1997, o Museu foi agraciado com a medalha de mérito da Câmara Municipal de Sines.
1996 - Colaborou. com o Dr. José de Encarnação na publicação “Monumentos Epigráficos romanos do Museu de Sines.
1997 - convida o Rui Santos para colaborador.
1998 - faz parte da exposição “ Da ocidental praia Lusitana – Vasco da Gama e o seu tempo “ que se realizou no castelo de Sines.
Colaborou com o Dr. Dias Diogo na publicação da separata “ Elementos sobre a produção de ânforas e a transformação piscícola em Sines durante a época Romana “
No Verão de 2001 deixa de comprar jornais e deixa de ler.
Em Maio de 2002 adoeceu e vai de urgência para o hospital de Santiago do Cacém.
Depois é internado num lar de repouso “ Vila Marya “ em Palmela, esteve sempre consciente até a sua morte , em 21 de Junho de 2005.
Era solteiro e não tinha filhos. Deixou em testamento a sua biblioteca, o museu e obras de arte à C.M.S deixando os bens imóveis e bens pessoais aos familiares .
20-01-2006
José Manuel s. cavalinhos
- Dr. José Miguel Costa, foi o fundador , organizador e director do Museu Arq. Municipal de Sines ( 1962 )
- Fundador e organizador da Biblioteca Pública Municipal de Sines (1945 )
- Sócio do Instituto Português de Arqueologia , História e Etnografia
- Sócio da Associação de Arqueólogos portugueses
- Sócio do Grupo de Amigos do Museu de Arte Antiga
- Sócio do Grupo de Amigos do Museu Municipal Dr. Santos Rocha ( Figueira da Foz )
- Fundador e organizador do Grupo dos Amigos do Museu de Sines ( 1969 – 1972 )
- Sócio do Centro Português de Actividades subaquáticas
- Colaborou nas II jornadas Arqueológicas da Associação dos Arqueólogos Portugueses
- Organizou a série de palestras e exposições comemorativas do décimo aniversário do Museu de Sines ( 27 de Fevereiro de 1972 a 29 de Setembro de 1973 )
- Organizou uma exposição 1870- 1970
- Publicou uma separata sobre o tesouro do Gaio e fez várias palestras no Museu Nacional de Arqueologia
- Organizou várias exposições na comemoração do 20 º aniversário do Museu Arqueológico de Sines :
• Exposição sobre artesanato e etnografia de Sines
• Retrospectiva sobre o pintor Emerico Nunes
-Publicou com o Arqueólogo Dias Diogo e Encarnação uma separata sobre as
Ânforas de Sines e o forno de Olaria
- Em 1988 fez uma exposição Documental sobre “ Vasco da Gama “
- Organizou nos anos 90, 2 exposições que ficaram permanentes no Museu :
• Exposição de História Natural
• Exposição de Numismática
(ambas as exposições foram realizadas com espólio que ele foi coleccionando desde Jovem)
- Sócio do Clube Náutico de Sines
- Sócio da sociedade Recreativa Sineense
- Sócio da Sociedade Filarmónica de Sines
- Sócio do Vasco da Gama Atlético Clube
- Sócio dos B.V.S
- Sócio da A .P.O.M
Recolha biogréfica e texto de José Manuel S. Cavalinhos (Técnico de Museografia).
8 comentários:
E a este SINEENSE, parece-me a mim, que ainda não foi prestada nenhuma homenagem, nem perpetudo o SEU nome numa qualquer rua de Sines...
Em contrapartida a um Homem que eu nunca dei por vir a Sines ou fazer alguma coisa em/por Sines, já foi dado o nome a uma rua, que é o caso do Raul Solnado...( terá o seu valor, não o nego, mas não vejo razão para ter por cá o nome numa rua )
Quem "governa" esta Terra tem "outras" visões, que muitos de nós, SINEENSES não teremos certamente...
A memória do Dr. Miguel da Costa merecia mais destaque e melhor tratamento do municipio, pelo muito que fez por Sines. Sou dos muitos que pensam que a terra ainda não lhe deu o reconhecimento que realmente ele merece.
Conheci bem O Dr José Miguel.
Por isso, posso dizer que fazem bem em não lhe prestar qualquer homenagem.
Não era Homem de homenegens.
Não o foi em vida e assim deve ser depois da sua morte.
Concordo em absoluto que este notável de Sines está esquecido pela autarquia, que não lhe dá a importancia e o estatuto que a sua total dedicação a Sines justifica. Mas estou convencida que a maioria dos sineeenses sabem do valor do dr. Miguel e um dia também teremos um municipio a reconhecer o seu grande trabalho convenientemente. O património de Sines deve-lhe muitissimo.
Obrigado ao José Manuel Cavalinhos por nos "oferecer" tão rica biografia deste Homem que levou o nome de Sines aos mais diversos pontos do país e do estrangeiro, perpetuando desse modo alguma da "história" desta nossa terra.
Ao Dr. José Miguel da Costa o meu muito obrigado pelo que fez em prol da preservação da "história de Sines".
Tanta vezes que visitei o museu e tantas vezes que me eram contadas as histórias de determinadas peças ali expostas.
Contribuiu e muito para aquilo que eu hoje sei do passado desta nossa terra.
Carlos Malafaia
Antes de mais, Parabéns por esta Biografia.
Mais um filho da terra, que não foi reconhecido e inversamente até prejudicado.
Aplaudo, caso venha a ser atribuído o seu nome, por exemplo, à Escola Primária nº3.
http://estacaodesines.blogspot.com/2009/09/uma-imagem-mais-de-mil-palavras.html
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Quero em primeiro lugar cumprimentar e felicitar o José M. Cavalinhos pelo óptimo trabalho que publica neste espaço de comunicação democrática ao dispor dos sinienses. Conheci o Dr. José Miguel da Costa em 1960 quando das escavações Atrás do Castelo na então cerca do tenente. Os achados de então estão hoje à vista de todos, embora a meu ver, de forma manifestamente infeliz, para o local e para o património histórico de Sines. Trabalhei mais tarde com ele enquanto presidente da câmara a partir de 1977 e como o Cavalinhos bem refere dando-lhe carta branca para todas as iniciativas que entendesse promover. Também acho que Sines está em divida para com o Dr. José Miguel da Costa. Creio que um seu busto em espaço público da zona histórica seria perfeitamente ajustado à dedicação e ao trabalho que nos legou.
Bem haja, amigo José Cavalinhos, por desta sorte dar a conhecer a vida de um homem que, desinteressadamente, deu à Arqueologia portuguesa e a Sines em particular tudo o que tinha, com uma dedicação enorme, mau grado as adversidades e as perseguições de que, de certo modo, foi alvo.
Sempre disponível e pronto para facilitar o estudo do que ia encontrando e guardando no seu Museu, acabou por não ter da comunidade arqueológica portuguesa a homenagem que lhe deveria ter sido prestada. Ainda estamos a tempo, porém!
O meu voto: que aos actuais responsáveis e funcionários do museu nunca faltem os apoios necessários!
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