sexta-feira, 30 de abril de 2010

Biografia de um notável de Sines - Dr. José Miguel da Costa

 Dr. José Miguel da Costa, ao centro na imagem, com os seus amigos Joaquim Barbosa e a irmã deste


Breve biografía de Dr.José Miguel da Costa (1922-2005)

Nasceu em Sines a 26 de Novembro de 1922, filho de Joaquim da Costa e Maria Rufina de Jesus Costa, teve uma irmã de nome Maria Rufina da Costa (14/4/24 – 16/4/26) que faleceu com 2 anos de idade.

Fez a instrução primária em Sines, tendo como professores Sines Fernandes e a Ana Borregana Lopes Paulo.Com o falecimento dos seus pais , como era menor, foi internado num colégio em Lisboa onde completou o liceu, o seu tio José da Costa foi o
seu tutor até atingir a maioridade, e como seu educador teve o seu tio materno prof. Manuel Loureço Rita.

Em 1942 fez os preparatórios de medicina , na faculdade de ciências da universidade de Lisboa; em 1943 entrou para a faculdade de medicina de Lisboa, interrompendo o curso em 1946 para cumprir o serviço militar em Bragança, como aspirante a oficial miliciano; promovido a alferes miliciano no ano seguinte, esteve nas 1ª manobras da 1ª Região Militar em 1951, sendo promovido a tenente miliciano um ano depois.

No ano de 1952 frequentou o 3º e 4º ano de faculdade de medicina da universidade de Coimbra, é neste altura que trocou a medicina por a arqueologia , embora já antes se dedicasse desde miúdo à Geologia e História, que foi aprendendo nos livros de seu pai e tios.

Os primeiros passos para a arqueologia começam em 1938, com o arqueólogo Dr. J.O. Cruz e Silva (fundador do Museu Municipal de Santiago do Cacém), no Cerro do Banheiro onde acompanhou os trabalhos ali realizados, tal como na herdade da Provença , Monte Novo, Vale Pincel, Boavista , Quin6ta da Lameira , Chãos, Porto Covo , Cerca do castelo de Sines , Aldeia dos Chãos , Castelo Velho, Palmeira e hipódromo de Mirobriga, nos concelhos de Sines e Santiago do Cacém.

Em 1946 Visita o Museu de Bragança , onde conheceu o Abade do Baçal com que quem muito contactou e muito aprendeu.

Em 1945, a convite da Câmara Municipal de Sines organizou e fundou a Biblioteca Pública de Sines, passados 27 anos é novamente convidado pela Câmara Municipal de Sines para reorganizar a Biblioteca Pública de Sines, reabriu ao público em 2 de Novembro de 1972 .

Em 1948, fez uma visita de estudo aos museus do País que durou um mês; dois anos depois, visita os museus de Madrid , Cordoba e Sevilha onde adquiriu mais conhecimentos no campo museológico e arqueológico.

Em 1951 manteve contactos com o antigo Ministério das colónias direcção geral da fazenda para comprar o forte da ilha do Pessegueiro, o que só não veio a suceder porque apenas o referido Ministério apenas estva disponíel para arrendar o imóvel, não vender.

Em 1954 volta a percorrer os museus nacionais. Em Setembro de 1957 fez uma viagem pela Europa mediterrânea afim de estudar os Museus e monumentos, passando por Cádis, Almeria ,Málaga, Murcia, Valencia , Tarragona , Barcelona, Arles, Nice , Marselha, Nimes, Génova ,Roma , Pádua , Veneza, Milão regressando por Lion e Bordéus .

Em 1958 , o professor Dr. Manuel Heleno faz-lhe o convite para trabalhar com ele em Tróia e no museu Dr. Leite de Vasconcelos .

Nos finais dos anos 50, convida o seu amigo João Correia como professor para colaborar na campanha contra a analfabetismo entre os seus trabalhadores agrícolas na Provença.

Em Dezembro de 1959 visita os museus de Bruxelas e París .

Nos anos de 1955,1956,1957 são feitas na Vila de Sines obras de saneamento, tendo a expensas suas salvo o riquíssimo espólio arqueológico que vai dar contributo para a fundação do Museu Arqueológico Municipal de Sines, inaugurado em Novembro de 1962.

Em 1960 conhece o Sr. Prof. Dr. D. Fernando de Almeida, que no Verão desse mesmo ano o convida a dirigir as sondagens da cerca exterior do Castelo de Sines , em busca dos alicerces da Basílica visigótica do séc.VII , nos anos de 1962, 1963 encontra 3 conjuntos de cetárias Romanas, restos de habitações, um forno de cerâmica, um poço etc.
Das muralhas do castelo de Sines retira 55 peças lavradas , pertencentes a dita Basílica do séc. VII assim como restos de bases e colunas romanas. O espólio encontrado nesses anos foi publicados por os professores Adilia e Jorge Alarcão.

Conheceu os arqueólogos Dr. Fernando Nunes Ribeiro, Dr. D Maria de Lurdes da Costa Artur, acompanhando-a nas campanhas de Mirobriga , travou conhecimento com arqueólogo prof. Abel Viana; após ter mostrado todo o espólio recolhido até a data, todos estes grandes arqueólogos portugueses o aconselharam e incentivaram a publicar e até mesmo a fundar um museu em Sines.

Em 1962, por sua iniciativa e à sua custa, organizou e fundou o Museu Arqueológico Municipal de Sines. Em 30 de Dezembro de 1962`é inaugurado o Museu no edifício da Câmara Municipal de Sines , onde ocupou 3 salas com o espólio arqueológico das obras de saneamento, das sondagens da cerca exterior do Castelo e de outros achados do concelho de Sines, em 1963 este espólio é enriquecido com 17 pedras lavradas provenientes do convento da nossa senhora do Loreto (Santiago do Cacém ).

Em Junho de 1966, por intermédio do prof. Dr. Manuel Heleno, informou a junta nacional de educação do achado do Tesouro do Gaio ( 1 de Maio de 1966 ) e um mês depois , à sua custa, dirige as sondagens no local do achado

Em Novembro, faz uma comunicação ao Instituto Português de Arqueologia História e Etnografia sobre o tesouro , a esta comunicação assistem entre outros o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Sines o prof. Carlos Manafaia .

Em Outubro de 1967 é autorizado pelo Prof. Manuel Heleno, e com um subsídio da C.M.S, a continuar as escavações na Herdade do Gaio.

A 16 de Março de 1969 , devido a um Sismo, o Museu instala-se provisoriamente na sua moradia, ocupando 9 divisões e aberto ao público.

Em 1972, para comemorar o 2º aniversário do museu organizou com o prof. Fernando de Almeida uma série de palestras sobre arqueologia, história e etnografia do concelho de Sines, uma grande exposição sobre armas do séc. XVI ao séc. XX e uma exposição de documentos e publicações sobre Sines , que foram filmadas e transmitidas 2 dias depois na RTP.

Em 1972 colabora com a secção de arqueologia, agregada ao Gabinete da área de Sines, onde trabalha na necrópole da idade do bronze da herdade da Provença , com os arqueólogos Farinha dos Santos , Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares.
No mesmo ano faz uma nova comunicação sobre o tesouro do Gaio – novos achados- dando conhecimento dos seus trabalhos de Outubro de 1967.

Os anos de 1972-73 foram intensos para o Dr. José Miguel da Costa pois realizou uma série de palestras em Sines integradas nos festejos do 10º aniversario do Museu, onde estiveram os melhores arqueólogos , historiadores, geólogos ,etc. do País.

De 1973 a 1982 faz um interregno em relação as escavações, dedicando-se as visitas dos Museus de Portugal e estrangeiro e apresentando o seu trabalho sobre o tesouro do Gaio (entretanto publicado).

Pelo meio dá-se o 25 de Abril . Entretanto é criado o Gabinete de Arqueologia do Gabinete da Área de Sines pelo Dr. Carlos Tavares da Silva e pela Dr. Joaquina Soares, onde o Dr. José Miguel da Costa não aceita integrar.

Não podemos esquecer, que depois de o Museu ter saído da Câmara Municipal de Sines para sua casa teve que ser criado os Amigos do Museu de Sines , porque lhe foi retirado os subsídios e o ordenado ao funcionário Sr. Joaquim Baptista Vilhena da Silva, que foi pago por os amigos do Museu e por ele. Com a presidência de Carlos Lopes Paulo, 1974 ,o funcionário Joaquim Martins é reintegrado nos quadros da C.M.S e o Museu volta a ter subsídios assim como outros problemas são resolvidos devido a insistência do Dr. José Miguel Costa .

Depois de algum tempo por Lisboa, embora vindo temporariamente a Sines, volta em 1981 devido a obras na sua casa. O ano de 1981 começa com as comemorações do 20º aniversario do Museu.

É a partir deste ano que a Maria do Carmo e eu entramos para o Museu, e como ele costumava dizer “ Quero sangue novo, para que isto não se perca...”

1981 – Ao fim de alguns anos em Lisboa, vindo a Sines só no Verão; é neste ano que se “ radica “ na sua terra natal, faz grandes obras na sua casa.

No ano de 1982 dedica-se de alma e coração ao museu com o objectivo da criação de um museu de raiz, tem várias reuniões com a C.M.S que lhe dá carta branca para avançar, tinha como objectivo criar o museu no triângulo castelo/C.M.S/e a sua casa (Museu), convida para vir a Sines o arquitecto Dr. Fernando Lhanas, que ficou encantado quer com o rico espólio, quer com Sines e as suas gentes, com os quais teve contacto.

Em Setembro de 1982 visitou o norte do país, nomeadamente Porto, Guimarães, Braga, Viana do Castelo, Coimbra e Coninbriga.

No plano do Museu, dinamizou-se com várias exposições integradas no 20º aniversário do Museu, a 1ª foi em 1982 com postais e quadros com vista sobre Sines que no fim foi emprestada ao Museu Arqueológico de Setúbal.

Ainda em 1982 fez-se uma exposição de etnografia sobre Sines com a ajuda do Poeta Al Berto sendo o cartaz de divulgação de sua autoria.

No final de exposição ficou a criação da parte de etnografia do Museu que até então era só de arqueologia .

No final de 1982, de 14 de Setembro a 14 de Outubro, é inaugurada a exposição do grande pintor Emmerico Nunes, onde se reuniram um grande número de quadros emprestados pela família e particulares e também com os seus quadros, não esquecendo o material sobre a vida e obra do pintor, que ficaram expostas em conjunto com as pinturas.

Em 1985 esteve 3 dias no 3º congresso sobre o Alentejo em Elvas. Depois visitou Nisa, Castelo Branco, Idanha-a-Nova e Idanha-a-Velha, esta última por causa da arte visigótica, e por fim Guarda .

Em 1988 faz uma exposição sobre Vasco da Gama, com o material dele, entre vários livros, moedas, medalhas, etc.

Em 1989 esteve presente nas 2ª jornadas de arqueologia em Monforte, visitando todo o distrito de Portalegre e deslocando-se 3 dias a Mérida afim de conhecer a colecção de arte visigótica existente naquela cidade.

Nos anos 80/90 amplia o Museu de 6 salas para 9 criando duas exposições temporárias um a de numismática /notofilia e uma outra de História natural (fósseis , rochas, minerais etc.)

No dia do Município de 1997, o Museu foi agraciado com a medalha de mérito da Câmara Municipal de Sines.

1996 - Colaborou. com o Dr. José de Encarnação na publicação “Monumentos Epigráficos romanos do Museu de Sines.
1997 - convida o Rui Santos para colaborador.
1998 - faz parte da exposição “ Da ocidental praia Lusitana – Vasco da Gama e o seu tempo “ que se realizou no castelo de Sines.

Colaborou com o Dr. Dias Diogo na publicação da separata “ Elementos sobre a produção de ânforas e a transformação piscícola em Sines durante a época Romana “

No Verão de 2001 deixa de comprar jornais e deixa de ler.

Em Maio de 2002 adoeceu e vai de urgência para o hospital de Santiago do Cacém.
Depois é internado num lar de repouso “ Vila Marya “ em Palmela, esteve sempre consciente até a sua morte , em 21 de Junho de 2005.

Era solteiro e não tinha filhos. Deixou em testamento a sua biblioteca, o museu e obras de arte à C.M.S deixando os bens imóveis e bens pessoais aos familiares .

20-01-2006
José Manuel s. cavalinhos



- Dr. José Miguel Costa, foi o fundador , organizador e director do Museu Arq. Municipal de Sines ( 1962 )
- Fundador e organizador da Biblioteca Pública Municipal de Sines (1945 )
- Sócio do Instituto Português de Arqueologia , História e Etnografia
- Sócio da Associação de Arqueólogos portugueses
- Sócio do Grupo de Amigos do Museu de Arte Antiga
- Sócio do Grupo de Amigos do Museu Municipal Dr. Santos Rocha ( Figueira da Foz )
- Fundador e organizador do Grupo dos Amigos do Museu de Sines ( 1969 – 1972 )
- Sócio do Centro Português de Actividades subaquáticas
- Colaborou nas II jornadas Arqueológicas da Associação dos Arqueólogos Portugueses
- Organizou a série de palestras e exposições comemorativas do décimo aniversário do Museu de Sines ( 27 de Fevereiro de 1972 a 29 de Setembro de 1973 )
- Organizou uma exposição 1870- 1970
- Publicou uma separata sobre o tesouro do Gaio e fez várias palestras no Museu Nacional de Arqueologia
- Organizou várias exposições na comemoração do 20 º aniversário do Museu Arqueológico de Sines :
• Exposição sobre artesanato e etnografia de Sines
• Retrospectiva sobre o pintor Emerico Nunes
-Publicou com o Arqueólogo Dias Diogo e Encarnação uma separata sobre as
Ânforas de Sines e o forno de Olaria
- Em 1988 fez uma exposição Documental sobre “ Vasco da Gama “
- Organizou nos anos 90, 2 exposições que ficaram permanentes no Museu :
• Exposição de História Natural
• Exposição de Numismática
(ambas as exposições foram realizadas com espólio que ele foi coleccionando desde Jovem)
- Sócio do Clube Náutico de Sines
- Sócio da sociedade Recreativa Sineense
- Sócio da Sociedade Filarmónica de Sines
- Sócio do Vasco da Gama Atlético Clube
- Sócio dos B.V.S
- Sócio da A .P.O.M


Recolha biogréfica e texto de José Manuel S. Cavalinhos (Técnico de Museografia).

8 comentários:

Anónimo disse...

E a este SINEENSE, parece-me a mim, que ainda não foi prestada nenhuma homenagem, nem perpetudo o SEU nome numa qualquer rua de Sines...
Em contrapartida a um Homem que eu nunca dei por vir a Sines ou fazer alguma coisa em/por Sines, já foi dado o nome a uma rua, que é o caso do Raul Solnado...( terá o seu valor, não o nego, mas não vejo razão para ter por cá o nome numa rua )

Quem "governa" esta Terra tem "outras" visões, que muitos de nós, SINEENSES não teremos certamente...

Anónimo disse...

A memória do Dr. Miguel da Costa merecia mais destaque e melhor tratamento do municipio, pelo muito que fez por Sines. Sou dos muitos que pensam que a terra ainda não lhe deu o reconhecimento que realmente ele merece.

Anónimo disse...

Conheci bem O Dr José Miguel.
Por isso, posso dizer que fazem bem em não lhe prestar qualquer homenagem.
Não era Homem de homenegens.
Não o foi em vida e assim deve ser depois da sua morte.

Anónimo disse...

Concordo em absoluto que este notável de Sines está esquecido pela autarquia, que não lhe dá a importancia e o estatuto que a sua total dedicação a Sines justifica. Mas estou convencida que a maioria dos sineeenses sabem do valor do dr. Miguel e um dia também teremos um municipio a reconhecer o seu grande trabalho convenientemente. O património de Sines deve-lhe muitissimo.

Anónimo disse...

Obrigado ao José Manuel Cavalinhos por nos "oferecer" tão rica biografia deste Homem que levou o nome de Sines aos mais diversos pontos do país e do estrangeiro, perpetuando desse modo alguma da "história" desta nossa terra.

Ao Dr. José Miguel da Costa o meu muito obrigado pelo que fez em prol da preservação da "história de Sines".

Tanta vezes que visitei o museu e tantas vezes que me eram contadas as histórias de determinadas peças ali expostas.
Contribuiu e muito para aquilo que eu hoje sei do passado desta nossa terra.
Carlos Malafaia

Anónimo disse...

Antes de mais, Parabéns por esta Biografia.

Mais um filho da terra, que não foi reconhecido e inversamente até prejudicado.

Aplaudo, caso venha a ser atribuído o seu nome, por exemplo, à Escola Primária nº3.

http://estacaodesines.blogspot.com/2009/09/uma-imagem-mais-de-mil-palavras.html

Xfire

Francisco do Ó Pacheco disse...

Quero em primeiro lugar cumprimentar e felicitar o José M. Cavalinhos pelo óptimo trabalho que publica neste espaço de comunicação democrática ao dispor dos sinienses. Conheci o Dr. José Miguel da Costa em 1960 quando das escavações Atrás do Castelo na então cerca do tenente. Os achados de então estão hoje à vista de todos, embora a meu ver, de forma manifestamente infeliz, para o local e para o património histórico de Sines. Trabalhei mais tarde com ele enquanto presidente da câmara a partir de 1977 e como o Cavalinhos bem refere dando-lhe carta branca para todas as iniciativas que entendesse promover. Também acho que Sines está em divida para com o Dr. José Miguel da Costa. Creio que um seu busto em espaço público da zona histórica seria perfeitamente ajustado à dedicação e ao trabalho que nos legou.

José d'Encarnação disse...

Bem haja, amigo José Cavalinhos, por desta sorte dar a conhecer a vida de um homem que, desinteressadamente, deu à Arqueologia portuguesa e a Sines em particular tudo o que tinha, com uma dedicação enorme, mau grado as adversidades e as perseguições de que, de certo modo, foi alvo.
Sempre disponível e pronto para facilitar o estudo do que ia encontrando e guardando no seu Museu, acabou por não ter da comunidade arqueológica portuguesa a homenagem que lhe deveria ter sido prestada. Ainda estamos a tempo, porém!
O meu voto: que aos actuais responsáveis e funcionários do museu nunca faltem os apoios necessários!