sábado, 26 de janeiro de 2008

Expropriados do GAS

Existem estórias que ouvimos desde que andamos de mão dada com os nossos pais, que relatadas em surdina, raiva contida, despero, acompanhadas de lágrimas, despertam os nossos sentidos de criança para algo de anormal.
Foi assim que me habituei a ouvir falar das expropriações do Gabinete da Área de Sines.
Do que a idade me permitia, entendi que existiam pessoas que tinham casas, terrenos, propriedades, etc, que lhes foram tiradas, e ponto final.
Com o passar dos anos fui percebendo que foram feitas leis que permitiram as expropriações, que foi pago dinheiro aos proprietários - uns receberam, outros recusaram - que as propriedades foram retiradas de alguns para o usufruto comum, justificado pelo desígnio nacional que representava o Complexo Industrial de Sines.
Bem mais tarde percebi que muitas das propriedade não serviram o bem comum, mas interesses particulares; entendi que o Complexo Industrial pensado no fascismo envergonhado de Marcelo Caetano prolongou-se no 25 de Abril ainda de fraldas, porque os interesses económicos - entenda-se dinheiro - não conhece partidos nem ideologias; ainda me interrogo como foi possível na aurora da liberdade os expropriados não se uniram num sentimento de revolta e de desordem pública para legitimamente defender as suas propriedades privadas. Dizem-me que "eles" eram os latifundiários, os ricos que tinham que pagar a crise, mas como pode ser rico quem por exemplo foi espoliado de uma parcela de 2.000 m2 de terreno agrícola?
Mais recntemente acompanhei as associações de expropriados - e seus descendentes - a compreensão e apoio das autarquias com a sua luta, a extinção do famigerado Gabinete da Área de Sines, a entrega de parte das propriedades expropriados às autarquias. Quando ingenuamente esperava a devolução destes, mais uma vez redescobri que o interesse económico sobrepõe-se a tudo o resto.
Hoje do que consigo entender existiam propriedades privadas que lhes foram tiradas aos seus legítimos donos, e ponto final.

1 comentário:

SCosta disse...

Para além disso, os que quiseram continuar a usufruir do que lhes pertencia, tiveram de pagar uma renda...
Pagamentos esses que duraram até á bem pouco tempo. Agora, em nome não se sabe bem de quê, obrigam essas pessoas a abandorar as terras e dão-lhes um mês para tirar tudo o que lá têm, para procederem á demolição de tudo o que está edificado.
Há quem tenha UM MÊS para retirar cerca de 100 cabeças de gado, alfaias agricolas e afins.
UM MÊS DE AVISO para abandonar a vivência de varias gerações.
E agora?