segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Balcão Central, 1.ª Fila (VII)
(O)posição


É meu dever preveni-lo, caro leitor, que não esperava um vendaval político, nem uma plateia cheia de eleitores ávidos de decidir o seu voto, nem a apresentação de grandes ideias, mas sempre era um debate com todos os candidatos autárquicos.
Sexta-feira passada, houve (???) debate entre os candidatos à autarquia. A plateia, inferior a uma centena de bocejantes eleitores, constituída, principalmente, por elementos das listas candidatas, foi-se esvaziando à medida que o debate avançava. Avançar, é demasiado; arrastava-se. Confrangedor, e deprimente se comparado com debates das últimas autárquicas. Assistimos mais a uma assembleia municipal, com a oposição a questionar o executivo, do que propriamente a um debate autárquico.
Veja-se por exemplo a poluição, questão maior da vida siniense. O debate resumiu-se a saber se a redução dos maus cheiros era iniciativa do presidente (e repare-se não da autarquia, mas do presidente) ou imposição das directivas comunitárias. Acabaram todos por concordar que este é um problema do Governo Central, o que deixou Manuel Coelho numa posição extremamente confortável, e ninguém falou num estudo epidemiológico, que determine os efeitos e as consequências sobre a saúde. Esqueceram-se que a poluição não se limita ao mau cheiro, muitas das vezes é inodora, incolor e inodora. Como é possível que depois de tantos anos, os candidatos regozijem-se pela expectativa de virmos a conhecer diariamente os níveis de poluição, num painel a colocar no centro da cidade.
Estrategicamente, Manuel Lança, do PSD, pretendeu assumiu a liderança da oposição, procurando estabelecer diálogo com o candidato CDU. Demonstrou desde cedo ser profundo conhecedor da realidade autárquica, por vezes foi arrojado, irreverente. Quase tudo para dar certo, perdeu-se em miudezas, piadas e provocações gratuitas, banalizando o debate e quase transformando-o numa conversa de café. O diálogo que travou com Manuel Coelho originou momento de pura diversão, cujo contributo para o debate se resume a algumas gargalhadas da assistência.
Carlos Silva, candidato do PS, mostrou-se distante, quase apático, nitidamente surpreendido peta reduzida qualidade do debate, cujo teor e modelo o prejudicou. Trouxe algumas ideias que mereciam melhor explicação e continuidade. Deste, como principal candidato da oposição, e aspirando ã vitória, esperava-se que marcasse o ritmo do debate e tudo fizesse para que este girasse sobre as suas propostas e o futuro de Sines, afastando-se do passado e das obras realizadas. Pelo contrário, deixou-se enredar pelo passado, arrastado pelo candidato do PSD e pelos jornalistas. Carlos Silva foi de fraque para um churrasco.
O candidato da CDU, Manuel Coelho, conseguiu algo notável: no mesmo dia teve o seu pior e melhor momento de campanha (ciclotimia politica?). Pior, quando na qualidade de presidente da CMS, distribui, a um mês das eleições, um livro documentando as obras da autarquia, quando o próprio assume que a população conhece o seu trabalho. Mesmo legalmente inquestionável, e prática corrente em muitas autarquias, tal não o iliba duma atitude moralmente condenável e cujo cofre da autarquia não aplaude. Melhor, no debate. Mostrou a serenidade e tranquilidade, que lhe faltou noutros debates, pecou nos trocadilhos com Manuel Lança e na demasiada preocupação com o candidato do PS. Em tudo o mais o debate correu-lhe de feição, centralizou e conduziu o debate, chegando ao ponto de alguns dos seus adversário tratarem-no com a deferência de Sr. Doutor e Sr. Presidente, esquecendo-se que se encontravam os quatro na qualidade de candidatos. O debate serviu-lhe como uma luva para relembrar as obras executadas. Mantendo um discurso coerente, conseguiu muitas vezes obter o reconhecimento do seu trabalho e iniciativas, por parte dos adversários. Vencedor inquestionável num debate, sem história e em que lhe bastou ser igual a si próprio. A mais não foi obrigada.
À candidata do BE, faltou o arrojo, a determinação e a inovação, a que nos habituou este jovem partido. Mostrou conhecimento da maioria das matérias em debate, não apontou nenhuma ideia de relevo que ficasse na memória, excepto "encher as caixas de correio das grandes empresas como forma de combater a poluição". È francamente muito pouco.
Ausência compreensível e sensata do candidato do CDS-PP.

“Texto publicado no semanário Noticias de Sines, em 17 de Setembro de 2005.”

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