segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Balcão Central, 1.º Fila (VI)
Abstenção


E se os partidos não pudessem utilizar, nas campanhas eleitorais, os verbos promover, apoiar, dignificar, valorizar, apostar, incentivar, etc?
Por exemplo "vamos promover o desenvolvimento". Mal de nós se todos os candidatos não tivessem esse objectivo, mas como se propõem alcançar?
Com Setembro chegarão os programas eleitorais, quantas promoções, valorizações, apoios, dignificações, incentivos, apostas, etc, vamos encontrar?
A abordagem de temas fracturantes é regra geral, feita através da generalização de ideias.
E necessário que os programas eleitorais não se limitem a um conjunto de lugares comuns, pois existem eleitores que ainda votam de acordo com as soluções propostas. Esperamos ver respostas para, entre outras, as seguintes questões:
• A ZIL 2, transformada em área habitacional, subvertendo o mercado imobiliário por um lado e impedindo o desenvolvimento de novas empresas.
• Como resolver a divida municipal, que atingirá em breve os 25 milhões de euros tornando-se um entrave ao investimento?
• Como conjugar a necessidade de travar o crescente aumento das despesas com pessoal da autarquia com a necessidade de mais e melhores recursos?
• Qual a carga fiscal (IMI e taxa de esgotos) que cada candidatura propõe? Quem propõe e de que montante uma taxa de resíduos? E até onde pode ir o preço da água com cada candidato?
• Qual a politica de apoio ao associativismo? Qual o modelo de gestão dos novos equipamentos municipais (piscinas e centro de artes)?
• E a questão da poluição, que todos dizem "' Tudo faremos para melhorar o ambiente" queremos saber até onde vai o "tudo"de cada um?
• E o mais que necessário Parque da Cidade e o novo Centro de Saúde, quando, onde e com que financiamento?
• Quem apresentará uma candidatura ao Programa Polis e com que intervenções? E o centro histórico e o Forte do Pessegueiro? Que soluções concretas?
• Alguma candidatura vai apresentar um orçamento municipal para o seu mandato? E indicar previamente quais os pelouros de cada vereador, em caso de vitória? Todas estas questões são pacíficas se conjugadas com promover, apoiar dignificar, valorizar, viabilizar, incentivar, etc. Contudo quando cada um indica o caminho concreto a seguir começa a polémica e sobe o interesse dos eleitores, que vendo que podem contribuir para medidas concretas não deixarão de participar. Vem isto a propósito do estado de alheamento da sociedade civil em relação à política em geral e aos políticos em particular.
Ensina-nos a história que em estado democráticos somente em períodos de convulsão político-social se regista participação cívica. Recorde-se as eleições em Timor-leste, no Iraque, ou mais distante as eleições do pós 25 de Abril. Em contrapartida em países estáveis com nível de vida elevado correspondem elevados níveis de abstenção, como no caso dos países do norte da Europa. Em Portugal mais que estabilidade e o nível de vida, é a descrença e o desencanto na politica e nos políticos que têm contribuído para a elevada abstenção.
Com as suas especificidades Sines tem acompanhado os níveis de evolução da abstenção verificadas mo resto do País. Nas próximas eleições autárquicas tudo indica que se manterá esta tendência. O maior número de forças politicas em liça e o surgimento de novos protagonistas, apesar de resgatar alguns abstencionistas, não conseguirá travar um nível de abstenção superior às últimas autárquicas, que rondou os 39%.
Não reconhecendo as eleições autárquicas como uma solução para a crise que o País atravessa, a ausência de ideias mobilizadoras e a revolta com o carreirismo politico que fomenta a ascensão profissional sem o correspondente mérito profissional, assim como a ausência de incerteza quanto ao vencedor, contribuirão em Sines para o afastamento dos eleitores das mesas de voto.


Nota de rodapé
Orçamento de campanha dos partidos candidatos à autarquia de Sines em 2005 (dados disponíveis em (www.tribunalconstitucional.pt):
PSD-PPD - € 112.410
PS - € 92.000
CDU - € 61.540
CDS-PP - € 11.241
BE - € 2.000
Sempre são € 279.191 (quase 56.000 mil contos) para informar e convencer a malta.


“Texto publicado no semanário Noticias de Sines, em 3 de Stembro de 2005.”

Sem comentários: