segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Balcão Central, 1ª Fila (VIII)
Alea Jacta Est


Sem o objectivo de convencer o leitor, nem a presunção de ser um estudo científico, este trabalho de previsão dos resultados autárquicos, baseia-se em factos históricos, na realidade do nosso concelho, que julgo conhecer e na minha convicção. Trata-se, assim, de uma previsão empírica sem base nem métodos científicos de análise e/ou estatística.
A CDU centrou a sua campanha na figura de Manuel Coelho, alicerçada numa estratégia de comunicação com o eleitorado baseada numa segmentação de grupos homogéneos: os Idosos, as mulheres, os Jovens, as minorias, etc, Trata-se de um candidato de proximidade, que conseguiu transmitir uma diferenciação entre si e os 30 anos de política CDU. Em círculos eleitorais da dimensão de Sines, mais importante que o candidato é a sua disponibilidade e facilidade do acesso, esta proximidade com quem manda, induz no eleitor, uma ilusão de poder. Basta ouvir, regularmente, dizer "eu logo falo com o Presidente...", "eu já disse ao Coelho...","ele (o presidente) conhece-me bem...” ,etc.; para perceber a empatia existente entre o candidato e a população. A esta relação com a população não é alheio o facto de se tratar de um conhecido médico e de um presidente que se recandidata ao terceiro mandato com, a tão pregoada, obra feita. A suposta coesão interna, o fenómeno psicossocial de resistência à mudança (os convictos votam por convicção, os indecisos pela situação), e as fragilidades evidenciadas pelas candidaturas adversárias, completam um conjunto de factores, que indubitavelmente conduzirão Manuel Coelho ao seu último e mais difícil mandato. O desgaste do poder, o sentimento de vitória antecipada, que afasta alguns votantes, e algumas promessas por cumprir são cartas menores para quem tem tantos trunfos na mão.
O candidato do PS, Carlos Silva não se libertou do estigma de "não ser conhecido" e "de não ser de Sines", aproveitado desde cedo seus adversários e de uma elevada expectativa dos seus simpatizantes. Dele esperava-se uma pedrada no charco que agitasse as águas cálidas da política siniense, com ideias inovadoras e mobilizadoras que gerassem um sentimento de modernidade e alternativa. Mostrou-se um candidato mais habituado ao poder que à oposição. Falhou ao não cultivar um necessário afastamento do estafado modelo de oposição do PS de Sines. Sujeito à erosão da actuação do governo PS e à convicção generalizada que não reúne condições para ganhar, assistirá à transferência (ou retorno) de votos para o PSD e ao aumento da abstenção, situando-se muito aquém do score alcançado, pelo PS siniense, no último sufrágio autárquico. Resta ao PS acreditar nos imprevistos da realidade, e nos imponderáveis que o futuro esconde a cada esquina do tempo,
O PSD-PPD à boleia do desencanto generalizado com a acção do Governo PS cavalga a onda do descontentamento que arrastará muito do chamado eleitorado flutuante, que vem à alguns anos a optar pelo voto útil no PS, como forma da afastar a CDU dos destinos autárquicos. Factor não desprezível para o resultado histórico que o PSD obterá, é a escolha do seu candidato, que apesar de não resolver as questões fracturantes do PSD siniense, permitiu, pelo seu caracter de não hostilidade, gerar um consenso alargado nas suas hostes,
O BE não trouxe a esperada lufada de ar fresco e a irreverência a que nos habituou. Terá os votos dos fiéis seguidores da sua sigla e estilo.
O CDS-PP foi a candidatura que menos desiludiu. Dele nada se esperava e ele nada trouxe. Coerente.
Tendo por base estas considerações, prevejo o seguinte resultado eleitoral para a Câmara Municipal de Sines, nas próximas eleições autárquicas.
CDU - 48% a 53%, 4 vereadores;
PS - 28 a 33%, 2 a 3 vereadores;
PSD/PPD - 13% a 18%, 0 a 1 vereadores;
CDS/PP - até 3%, nenhum vereador;
BE - 2% a 5%, nenhum vereador.

Manuel Coelho apesar de conseguir a sua melhor votação de sempre ficará longe, dos valores históricos de Francisco Pacheco. O aumento da votação na CDU é na verdade uma vitória de Pirro, pois para acrescentar um vereador aos actuais, seria necessário muito mais. O PS apesar de conseguir manter uma razoável base eleitoral sairá como o grande derrotado destas eleições, perdendo um vereador. Manuel Lança do PSD, poderá recuperar o lugar de vereador perdido há 8 anos, e possivelmente obtendo a maior votação de sempre do PSD a concorrer sem coligação, O CDS e BE dificilmente passarão dos 3% e 5, respectivamente.
.Assembleia Municipal - Sem prejuízo da tendência de votação para os vários órgãos autárquicos ser muito semelhante, em virtude da aplicação do método de Hondt, a CDU, considerando que não ganhará a freguesia da Porto Covo, poderá ficar novamente a 1 deputado da maioria absoluta, necessitando que o PSD viabilize as suas propostas através, não dos dois deputados que dispunha, mas dos 3 a 4 deputados que irá eleger. Apesar de Idalino José ir obter uma votação, ligeiramente, superior a Carlos Silva, não conseguirá impedir a perda de 1 a 2 deputados municipais.
Junta de Freguesia de Sines - A vitória será da CDU, é esta a opinião generalizada e consensual da população. Será aqui que o PS sofrerá a maior derrota da noite eleitoral, devido aos opositores que enfrenta.
Junta de Freguesia da Porto Corvo - É sem dúvida a mais renhida das batalhas eleitorais. Como á afirmei, joga-se aqui mais que a própria freguesia. O Presidente de Freguesia, que por via da sua eleição será membro da Assembleia Municipal, será decisivo para uma eventual maioria da CDU. Todavia, é minha convicção que Manuel Arsénio ganhará por uma margem mínima, mantendo o Porto Covo socialista.

“Texto publicado no semanário Noticias de Sines, em 1 de Outubro de 2005.”


Nota:
Resultados das eleições autárquicas 2005, para a Câmara Municipal de Sines, CNE
CDU 3524 votos- 54,94% (5 vereadores)
PS 1765 votos - 27,52% (2 vereadores)
PPD/PSD 609 votos- 9,49%
BE 163 votos - 2,54%
CDS/PP 79 votos - 1,23%


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