segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Balcão Central, 1.ª Fila (IV)
Eleições Autárquicas de Sines 2005


Antes da análise das listas candidatas à autarquia, existem três aspectos que tenho como inquestionáveis em termos de análise autárquica local.
- Não existem listas ganhadoras, mas sim candidatos vencedores. O cabeça de lista é pai na vitória e irmão nas derrotas. Os eleitores votam no candidato ou no partido, não na lista, contudo esta poderá ter o efeito contrário, levar a que não se vote no candidato. Idiossincrasias eleitorais;
- Actualmente a gestão autárquica assenta, fundamentadamente 3 áreas: financeira e recursos humanos, obras (públicas e privadas) e jurídica;
- O número de eleitores que vota de forma diferente para os diferentes órgãos autárquicos, é meramente marginal.

Câmara Municipal
O PS demonstra saudável preocupação em que os elementos da sua lista assegurem as áreas fundamentais da gestão autárquica. Curiosa constituição da lista. Mantém o elo com o partido, e procura simultaneamente a renovação, onde pontuam agradáveis surpresas. Pretende o melhor de dois mundos, aposta muito arriscada para quem assume ser a alternativa. A considerável notoriedade dos candidatos, não compensa a ausência de experiência politica e autárquica, o que poderá penalizar a candidatura.
Por seu lado a CDU aposta forte na juventude e experiência inquestionável dos seus elementos. Im­perdoável a lacuna na área financeira, verdadeiro calcanhar de Aquiles da autarquia. Notoriedade muito elevada dos candidatos, numa lista que assume de corpo inteiro ser CDU. Com a saída do actual vice-presidente, para uma mais que provável empresa municipal de desporto e cultura, apresenta esta candidatura como número dois um candidato, preterindo outros nomes mais sonantes e consensuais junto do seu eleitorado. Apesar da lendária coesão partidária, a referida escolha deixará marcas não só no resultado eleitoral como no interior do partido. Paradoxalmente, somente uma oposição forte manterá unida esta lista, que disputará entre si uma futura candidatura à presidência.
O PSD, com legitimas pretensões de recuperar o vereador perdido há oito anos apresenta uma lista convincente para o seu eleitorado. Conjugando a provável recuperação de parte do seu eleitorado, que à 4 anos viu no PS uma alternativa à gestão CDU, com a actua ção do Governo PS e com a candidatura do BE que proporcionará a transferência de eleitores de ambos os partido de esquerda. Manuel Lança têm as condições ideais para reunir as "tropas" à volta da candidatura que encabeça, reforçando a aspiração de ser eleito.
As candidatura do BE e CDS, apresentam em comum o alargamento do espectro político, com o desejado abrir do leque de ideias e projectos e o facto de se tratar de candidaturas com elevado ênfase partidário, o seu eleitorado votará mais pela sigla que pelos candidatos.
Conforme previa o Bloco de Esquerda, não desperdiça a oportunidade de fidelizar eleitorado. Ao contrário do que querem fazer crer os seus responsáveis, que qualquer resultado é positivo, o BE espera alcançar um resultado próximo das legislativas, o que me parece improvável. A parte substanciai dos seu votos, não serão de transferências do PS ou CDU, mas sim da abstenção, o que só por si vale bem uma candidatura.
O CDS, mais por estratégia nacional do que por decisão local, surpreendentemente avança com a sua candidatura a Sines. Votando a direita no PSD, com o objectivo de eleger um vereador e simultaneamente, endereçar um recado ao Governo Central, restará ao CDS os votos dos irredutíveis, que pouca expressão têm em Sines.

Assembleia Municipal
A Assembleia Municipal é simultaneamente a rampa de lançamento na politica e o repouso dos guerreiros. Idalino José, candidato do PS, não sendo novo nestas andanças, também não procura o repouso, antes retempera forças para novos combates. Para já aguarda-o uma derrota certa contra o globetrotter Francisco Pacheco. Elogie-se o facto, de apesar de ver gorada a expectativa da candidatura presidencial, Idalino José, aceitar assumir as despesas numa derrota que não é sua. Caso obtenha mais votos que o candidato do PS à CMS, deixará muitos amargos de boca nos socialistas sinienses. De Francisco Pacheco pouco há para dizer, para além do facto de obter a proeza de derrotar, em ocasiões distintas, a dupla - Guinote-Idalino - que fez o partido socialista acreditar na vitória em Sines. A apresentação por parte do PSD, de um histórico do seu partido, associado ao facto da penalização da acção do Governo, permitirá, a Francisco Venturinha, fixar o seu eleitorado e obter transferência de votos do PS, aumentando o número de deputados municipais. Uma eventual lista do BE, permitiria, em minha opinião, a sua entrada na politica municipal pela porta da assembleia.

Junta de Freguesia de Sines
A CDU mantém, também, aqui o princípio de candidato que ganha recandidata-se e apresenta António Correia, um dinossauro político que seguramente se manterá no poder.
O PSD que já surpreendia por não surpreender, surge com uma lista liderada por Sandra do Ó, como a maior surpresa destas eleições. Agradável atitude, a de resgatar da sociedade civil a disponibilidade para abraçar cargos políticos de elementos com bastante notoriedade. Esta opção proporcionará um resultado curioso, com prejuízos de maior vulto para o PS.
O candidato do PS, Carlos Salvador, depois da experiência anterior enquanto candidato à Camara Municipal de Sines, ter resultado em pesada derrota (15%, contra 60% da CDU e 18% do PSD), também desta vez, não o espera melhor sorte. Será aqui que se verificará a maior derrota do PS na noite eleitoral, em grande parte devido aos adversários que enfrenta.

Junta de Freguesia de Porto Covo
Aqui jogar-se-á a mais renhida luta dos vários órgãos do poder local Com a saída do actual presidente da Junta, e estando colocada em risco a única conquista eleitora! do PS em 30 anos, o PS apresenta José Manuel Arsénio como sucessor natura! e consensual. Comprovar-se-á se o Porto Covo vota PS ou Luís Gil, principalmente se o actual presidente da Junta não demonstrar inequivocamente o seu apoio a esta candidatura.
A CDU procura a solução para recuperar a freguesia perdida há 4 anos, por escassas dezenas de votos, através de Armando Francisco, homem da terra, com vasta experiência política e autárquica. Sendo o caminho para a vitória exíguo e escorregadio, terá como trunfo o trabalho da Câmara Municipal, de que é vereador.
A renhida luta pelo poder na freguesia, manterá a bipolarização, não deixando espaço para o PSD, que sem surpresa, manter-se-á abaixo dos 10%.
A dúvida se a CDU conseguirá alcançar a maioria na Assembleia Municipal é a par do resultado da freguesia de Porto Covo a grande incógnita destas eleições.
Curiosas como esta duas questões estão relacionadas. Perante, o previsível cenário da CDU eleger 9 elementos, mais o presidente da Junta de Freguesia de Sines, eleito por inerência, e as restantes forças politicas elegerem 10 deputados, a eleição da freguesia do Porto Covo ganha um valor acrescido. Para além de eleger o presidente da freguesia, este eleito por inerência para a Assembleia Municipal, decidirá a existência de maioria CDU na Assembleia Municipal.

“Texto publicado no semanário Noticias de Sines, em 13 de Agosto de 2005.”

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