segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Balcão Central, 1.ª Fila (X)
Rescaldo



A CDU, iniciando cedo a sua campanha, metamorfoseada em demonstração do trabalho autárquico e utilizando os recursos da autarquia, depressa sufocou as campanhas adversárias. Mostrou uma capacidade de mobilização em que já não se acreditava, e as divisões internas por imposição de candidatos e desmobilização da juventude, mais do que realidade, eram desejos da oposição. O candidato surgiu bem preparado e beneficiou que a oposição jogasse no terreno que melhor conhece: as suas obras. Paradigmático o momento em que explica ao candidato do PS que a opção pelo CDH da Quinta dos Passarinho foi aconselhado pela então secretária de estado do PS - facto que deveria ter sido capitalizado pelo PS, como acção do seu governo - ou a forma como surge como o travão ao aumento da poluição em Sines, substituindo-se ao Governo.
O PS de Sines foi o menos votado do Litoral Alentejano, o que demonstra que para lá do descontentamento generalizado com o Governo, da ausência de líderes nacionais de renome em apoio à candidatura e do mérito da candidatura CDU, muito da pesada derrota tem raízes locais. As divisões internas e dissidências, apesar de contribuírem, também não encerram a totalidade das explicações.
Como tem vindo a demonstrar os resultados de Sines nas legislativas, em que o PS habitualmente ganha, estas eleições autárquicas comprovaram que Sines é manifestamente de esquerda. E somente uma parte deste vasto eleitorado de esquerda oscila entre CDU e PS. Para a autarquia CDU, era necessário que existisse um grande movimento de contestação (em politiquês, denominado vaga de fundo), um partido unido com uma lista e um candidato muito fortes, o que não era o caso e por fim um trabalho de 4 anos de oposição forte, determinado e coerente, o que não fizemos (Nota de redacção: Braz é vereador pelo PS desde 2001). Por fim, a campanha deveria ser centrada no futuro, libertando o candidato das polémicas do passado, surgindo, assim, como alternativa para um futuro diferente. A vantagem de apresentar um candidato sem passado autárquico em Sines, trazia um perfume de renovação de ideias e de fazer politica, que depressa se esfumou entre criticas e observações sobre o passado, que só serviram para desfocalizar a atenção sobre algumas ideias interessantes. O resultado alcançado, contudo, permite aos mais renitentes continuar a defender a estratégia actual, pois a cegueira política não permite isenção critica, confundido o mensageiro com a mensagem. O PS sineense lembra-me Camões: "erros meus, má fortuna”.
Acabou a esperança do PSD pôr termo à bipolarização politica em Sines, nos próximos anos. Perante um conjunto de factores que lhe sorriam: a conjuntura nacional, um candidato credível, um PS dividido e enfraquecido, somente se pode queixar de si próprio. Alcançou o feito de desbaratar rapidamente este capital sem perceber bem porquê, obtêm apenas mais 122 votos do que há 4 anos em situação mais adversa.
A política de muleta, viabilizando as propostas da CDU na Assembleia Municipal, castrou o PSD local de um carácter independente e combativo, e reside aqui parte da explicação porque muito do seu eleitorado votou CDU. Curioso este PSD, que ao contrário de Santiago do Cacém, os rostos que promoveu enquanto "nomeados" políticos eclipsaram-se, assim como o anterior candidato e a sua entourage. Certo é que, nas eleições autárquicas, continua a não traduzir em votos a sua verdadeira dimensão. Decerto que vale mais que a votação alcançada. Ao contrário do PS, aqui não há dúvidas, o PSD têm de arrepiar caminho, pois está esgotada a sua forma de estar na política siniense, e recomeçar de início. Salve-se o facto de ter a coragem de trazer novos actores para o palco da politica local, confesso que não sei se por opção ou necessidade.
O CDS mostrou o que de pior têm a politica. Um candidato, sem equipa, subjugado a lógica partidária. O CDS-PP alcançou o seu objectivo: estatisticamente contabilizou mais uma candidatura e mais 80 votos para o saco dos resultados nacionais. Apesar de na política o todo nem sempre ser igual è soma das partes, bastava a Manuel Lança os votos do CDS para ser eleito vereador. Se Ribeiro e Castro souber ficará satisfeito.
O BE refém da indecisão, até última hora, do candidato desejado, viu-se na contingência de um candidato de recurso. Apresentou uma candidata que não é talhada para estas andanças e que sem equipa e campanha, limitou-se a cumprir a sua obrigação. Não deixando órfão o seu eleitorado, dignificou o seu partido e a democracia.
Em resumo, olhando para os valares absolutos, concluí-se que a par de um grande vencedor - CDU, temos um PS derrotado inapelavelmente. À excepção do PS que perde 969 votos (menos 35%), todos os partidos subiram as suas votações, em relação às últimas autárquicas. Curioso o efeito das expectativas: a CDU com apenas mais 254 votos (crescimento de 7%), foi a grande vencedora, enquanto o PSD com mais 122 (crescimento de 24%) sai como derrotado. Mais 80 votos e consequente eleição de um vereador fariam do PSD um vencedor. As fracas candidaturas de CDS e BE, serviram para mostrar quanto vale o seu irredutível eleitorado.
Finalizo aqui o Balcão Central, 1º Fila, donde assisti e partilhei a minha visão com os leitores, sobre este acto eleitoral. Com um pedido de desculpas a Carlos Salvador, pois ao contrário do que referi, não foi o menos votado dos candidatos PS, contudo tal facto, não retira uma virgula à minha opinião de ter sido o grande derrotado pela tripla responsabilidade de candidato à Junta, de presidente da comissão politica e responsável pela desastrosa estratégia do PS.


“Texto publicado no semanário Noticias de Sines, em 16 de Outubro de 2005.”

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