"Xau comuna"
Foi este o último comentário que vi publicado no post de despedida do Braz, antes de começar a escrever este meu último texto na estação.
Não conheço assim tão bem António Braz, falámos não mais do que dez vezes por certo, conversas sérias e demoradas terão sido bem menos até. Convidou-me a escrever aqui depois de ler o meu blog, porque achava que eu podia ser uma voz que de alguma forma, pudesse representar muitos dos jovens, que apesar de sinienses, trabalham e vivem noutras cidades. Não sei se fui capaz de ser essa voz, mas aceitei e tomei como um elogio pessoal, porque apesar de nos devermos preocupar com os outros, acho que primeiro nos devemos preocupar connosco e os elogios, esses, aceito-os todos de bom grado, que muita falta me fazem.
Este é um post sincero e honesto, como acho que foram todos os que escrevi até chegarmos aqui, sem estratégias nem jogadas estudadas.
Acho que o último post da estação de Sines, deveria ter sido o ponto final do Braz, mas não foi e só por isso escrevo este, como um elogio a ele mas não só, como um elogio a todos os que dão a sua opinião sem medo das consequências.
"Xau comuna" e em duas palavras se descreve o sentimento de muitos em relação a quem protesta, a quem se queixa. A minha avó, uma senhora simples na casa dos 80, trata o Sócrates por patrão, assim como tratava todos os outros primeiros-ministros de que eu me lembro. Da última vez respondi-lhe,
- Sou eu que pago o ordenado ao teu patrão!
E ela olhou-me desconfiada, sem dizer nada.
Acho que são as pequenas coisas que fazem o todo, pequenos actos, pequenos sentimentos que nem sabemos ter, preconceitos escondidos, arrependimentos guardados, um sem fim de coisinhas pequenas que todas rendilhadas entre elas, explicam quase tudo no nosso comportamento individual e colectivo.
As mudanças começam não sei bem onde, não sei bem quando, mas para serem verdadeiras deverão chegar ao interior de cada um de nós, pois só assim poderão ser verdadeiras e não artificiais, e talvez por isso, sejam tão difíceis de acontecer.
O poder deve estar no povo, mas os exemplos devem vir de cima e aqui, chegamos a um impasse, porque quem é eleito não representa o povo e de cima só chegam maus exemplos.
Eu sempre fui um bocadinho de extremos, nada que não melhore com a idade e com o saber ouvir os outros, mas cada vez mais acho que os partidos não podem continuar a ser aquilo em que se estão a tornar, organizações mafiosas que cilindram tudo o que se lhes atravesse no caminho.
Lembro-me de quando comecei aqui a escrever, ter havido logo quem me tivesse elogiado a coragem, mas para mim era tudo muito simples, tinha coisas para dizer e estavam-me a dar a possibilidade de o fazer. É certo que faria inimizades, mas tinha muito mais a ganhar do que a perder, desde logo com a minha consciência, que não me perdoaria desperdiçar um desafio assim. Olhando para trás, tenho a certeza de que muito ficou por dizer, mas tenho a consciência de que tudo valeu a pena e que saio mais rico emocionalmente do que quando entrei.
Confesso que desde que o Braz me comunicou a sua retirada da estação, nunca sequer me passou pela cabeça ficar, até porque nunca houve um pedido expresso da sua parte para que aguentasse o barco e mesmo se tivesse havido, só aceitaria se tivesse a certeza que o poderia manter a flutuar, como não tenho essa certeza, nem o pedido foi feito, e como não sou dos que ficam no navio quando o comandante o abandona, salto borda fora também.
Sines, como se costuma dizer, tem aquilo que merece, a terra, os políticos, as pessoas, as ruas, as praias, as estradas, os jornais, os blogs, tudo na devida proporção em relação ao que fez para ser um sitio melhor. Talvez um dia o Braz volte, não sabemos, mas até lá tenho a certeza que muitos irão sentir a sua falta.
Obrigado Braz!
Foi um prazer escrever na estação de Sines.