sexta-feira, 4 de abril de 2008

Portugal dos Pequeninos

A forma de comunicação verbal reflecte muito da alma de uma Nação. Uma das característica mais vincadas da nossa linguagem é a forma como abusamos dos diminuitivos. Não compramos um carro ou uma casa, mas um carrito ou uma casinha, não temos emprego mas um trabalhinho, não comemos um bom almoço, mas um belo almocinho, etc,etc,etc...
Depois temos a nossa atitude perante a vida, quando questionados sobre como estamos, nunca mas nunca estamos bem, vamos andando ou "cá vamos mais ou menos", as férias épocas festivas, fins-de-semana nunca foram bom ou maus, passaram-se.
Nunca fazemos merda, apenas um risquinho na viatura, um pequeno erro, uma coisa de nada, um pequeno lapso, um esquecimento.
Este Portugal dos pequeninos, hipócrita, medíocre e cinzento, ganha outras dimensões quando no círculo de amigos, à mesa do café do bairro ou na mesa do restaurante. Aí ganhamos estatuto de hérois, extravasamos coragem, traçamos projectos arrojados. O carrinho agiganta-se, a casinha transforma-se numa vivenda, o fim de semana foi fabuloso, as férias magníficas, o chefe vai ouvi-las. Os erros, falhas ou insucessos esses ganham vida: os nossos continuam pequenos, no limite assumimos porque tivemos azar, os dos outros, ganham uma dimensão e dramatismo digno de castigo exemplar, não que nós não tivéssemos previsto e avisado.

A mediocridade alheia confere à mediania foros de brilhantismo, é a nossa capacidade de nivelar por baixo, preferimos ser reis numa barraca do que príncipes num palácio. Somos, ou como muitos dizem, "semos" Portugueses.

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